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Nas águas do Velho Chico

Foram 2000 Km rodados, passando por quatro estados, três fronteiras, com poucos planos e aproveitando as surpresas do caminho. O que faltou de planejamento para reduzir as distâncias e custo, ganhamos em "bagagem".  

Chegamos em Aracaju e com um carro alugado, seguimos para Canindé de São Francisco, mas acabamos ficando do outro lado do rio, na charmosa cidadezinha de Piranhas, já em território alagoano. A cidade é famosa por ter sido o local onde as cabeças de Lampião e seu bando ficaram em exposição após decapitação na emboscada na Grota de Angicos. É claro que há um programa turistão que leva até a tal grota, com um guia vestido à caráter. Esse passeio acabamos não fazendo, optamos por almoçar bem, tomar uma cerveja gelada e lagartear nas redes submersas que ficam na beira do rio. Contratamos um barqueiro privado para nos levar com calma às cidades ribeirinhas de Entremontes e Ilha do Ferro. No dia anterior havíamos feito o Canion do Xingó, pelo grande catamarã que sai do Restaurante Karranca´s e nos arrependemos demais. Quanto mais fotografamos, mais descobrimos que há necessidade de um tempo só nosso.

 

 

Ficamos quatro noites hospedadas em Piranhas, sendo as três primeiras noites na Pousada O Canto, sofrendo um pouco com o péssimo wifi e um café da manhã sofrível, onde dividíamos o espaço com moscas. Na última noite, optamos pelo Pedra do Sino, o suposto melhor hotel da cidade, com o objetivo de ver o sol nascer de cara para o Rio São Francisco. 

No segundo dia, pegamos a estrada e fomos dar uma volta nas cidades próximas. Saindo da feira livre de Olho d'Água do Casado, dois vaqueiros nos dão a dica de uma vaquejada que vai rolar em Delmiro Gouveia, mais à frente na estrada por 25km. "Vamos nessa? Vamos!!!" Chegamos ao local. Uns 50 homens em seus cavalos, nenhuma "calcinha" à vista. "Ficamos? Ficamos!!! Vamos ver qual é!!!". Seguimos para a porteira para conversar com os organizadores do evento e pedir autorização para fotografar e então nos deparamos com a família Rodrigues que organiza o evento uma vez por ano à postos sobre as churrasqueiras e fogões à lenha, trabalhando com amor para promover a festa. Cinco bois haviam sido abatidos, cuja carne já preparada para ir ao fogo encontrava-se armazenada em duas enormes caixas d'agua, aquelas azuis que vemos por aí. Ao voltarmos para a área externa, os 50 homens haviam se transformado em 200 e até a hora da soltura dos bois acho que esse número já havia dobrado e em cinco minutos já havíamos esquecido do detalhe de sermos duas mulheres naquela multidão masculina.

 

A Vaquejada surgiu no sertão nordestino entre os séculos XVII e XVIII e é considerada um esporte com várias modalidades e estivemos em uma do tipo "pegada do boi", onde os bois mantidos no curral são soltos na caatinga e o vaqueiro que derrubava um deles, recebe o valor do prêmio que está escrito na coleira, retirada na captura. O momento decisivo é simplesmente fantástico, pois os bois saem do curral aos trancos em alta velocidade, como se fugindo de seus caçadores e os vaqueiros logo atrás disputando entre si o melhor posicionamento  para capturar um dos bois. Sem experiência e sem ter ideia de como funcionaria na prática, é claro que tivemos dificuldade de encontrar bom ângulo para fotografar. O disparo dos bois e homens foi um susto enorme que promoveu a hastag da viagem: #flaviadedeus, em um grito de surpresa e medo. Não dá para descrever completamente a sensação! Mas nós ficamos com a sensação de querer voltar no próximo ano. Essa foi a maior cagada da minha história fotográfica.

Subimos em direção à Petrolândia, segunda fronteira atravessada, de Alagoas para Pernambuco. A antiga cidade foi inundada em 1988 para construção da barragem de Itaparica e construção da Usina Hidrelétrica Luiz Gonzaga. Após a inundação, apenas o topo da Igreja do Sagrado Coração de Jesus ficou visível. Hoje, por conta da estiagem, o volume do Lago de Itaparica reduziu e praticamente metade da estrutura do templo pode ser visualizada.

 

De Pernambuco, retornamos para Alagoas, agora no sentido litoral e firmamos base em Penedo, de onde fomos visitar o povoado de Santana de São Francisco, chamado antes de Carrapicho, onde 90% da população vive do artesanato de barro. No fim da tarde desse dia, fomos assistir ao pôr do sol na foz do rio em Piaçabuçu e fechamos a região com um passeio de bugre ao Pontal do Peba e ao Quilombo Pixaim e contamos aí com a ótima estrutura do Receptivo As Ribeirinhas. Então, em um piscar de olhos nos demos conta que mais da metade das férias já tinham ido e começos a descer para Aracaju, com direito à chuva.

De Aracaju fomos à São Cristovão, uma das cidades mais antigas do país, tombada pelo patrimônio histórico, mas pessimamente conservada. Também fomos à Pirambu, cidade onde se estabeleceu o primeiro  Projeto Tamar, atualmente com as portas fechadas. Nessa cidade, nos deparamos com uma situação muito estranha, muitos barcos pesqueiros aportados no pequeno porto, carregados de uma quantidade enorme de camarões, que eram retirados com pá dos porões. Nos galpões, muitas mulheres encontravam-se em pequenas banquetas limpando os camarões. Ao questionar sobre o destino dos camarões limpos, poucas falaram. A única informação que conseguimos é que seguem para as empresas que os revendem congelados. Fui à internet e encontrei uma tese enorme que falava sobre o trabalho de exploração dessas mulheres, chamadas marisqueiras, que trabalham até dezesseis horas por meio salário mínimo. Naquele local, não sabem o que quer dizer CLT!

E para encerrar, cruzamos a fronteira com a Bahia para dois dias em Mangue Seco. Há uns 20 anos eu havia estado lá e fiquei impressionada com as mudanças, a grande faixa de areia na praia ficou muito reduzida. A cidade está sendo espremida entre o mar e o Rio Real. Voltamos à Aracaju para a última noite. Foram 10 dias de muita estrada e muitas fotos!!!!

Hospedagem:

Piranhas - Pousada O canto e Hotel Pedra do Sino

Penedo - Hotel São Francisco

Aracaju - Ibis Budget Aracaju

Mangue Seco - Fantasias do Agreste

Passeios:

Piaçabuçu - As Ribeirinhas

Carlinhos/Privado em Piranhas - Facebook

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