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Peru - Sul

Essa viagem já estava no forno desde 2008, mas foi adiada pela ideia de ter meu filho como companhia, mais velho o suficiente para curtir a viagem. Comecei os preparativos três meses antes, trocando os pontos do cartão de crédito em milhas da TAM, comprando os demais trechos peruanos pela internet e reservando os hotéis para cada cidade que pretendíamos visitar. Foram sete cidades em 20 dias, havendo somente a desistência de Huaraz (fiquei mega frustrada), já que as condições climáticas não ajudaram. Quando houve necessidade da contratação de agências, optei pelas locais, fechando apenas Macchu Picchu com antecedência. E esse planejamento economizou 50% do que eu gastaria por uma operadora brasileira por uma viagem de 10 dias.

 

 

Primeiro dia: 03/12/2011 - Rio x São Paulo x Lima x Arequipa

 

Vôo tranquilo entre Rio e São Paulo em um avião muito mais confortável do que aquele que nos levou de SP à Lima, vai entender como pode um vôo curto ter prioridade...

 

Passando por La Paz nosso piloto nos avisa da vista maravilhosa à esquerda da aeronave, com a Cordilheira dos Andes já dando o ar da graça. Como é dezembro, pouca neve sob os cumes, paisagem bem diferente da minha memória dos Andes quando estive no Chile em abril, onde a neve estava bem mais intensa.


Chegamos ao Aeroporto Internacional Jorge Cháves por volta das 11:00, com três horas de diferença para o horário brasileiro que já seria 14:00, ou seja, um saldo de 7 horas de viagem. Procuramos um ATM para sacar um pouco de moeda local, e fomos comer alguma coisa. O medo de passar mal nos levou ao Subway, que aparentemente tem os mesmos sandubas em qualquer lugar. Bruno, na curiosidade-mór por coisas novas, encarou logo uma Inka Cola, o refrigerante peruano amarelo com gosto de chiclete (na verdade, eu achei com gosto de xarope infantil). Às 14:00 saiu nosso voo pela Taca para Arequipa. 

 

 

A chegada em Arequipa foi muito estranha, pois o a aeroporto é colado aos pés dos famosos vulcões El Misti e Chachani, no deserto. De cima, apenas temos a visão de uma comunidade paupérrima e a pergunta era: o que será que veremos aqui?

 

Eu já havia reservado o hotel com transfer, o que facilitou bastante. No caminho até o hotel, a paisagem foi mudando e nos deparamos com uma cidade organizada e diferente das que conhecemos no Brasil. Bruno foi notando a cada minuto a variedade de marcas dos carros nas ruas e os taxis Daewoo amarelinhos que mais pareciam caixinhas de fósforos. Pouco movimento, afinal, era um sábado. Tudo o que queríamos era um banho, porque o cansaço estava na nossa cola.

 

Nesse dia, não saímos para canto nenhum. Ficamos duas noites em Arequipa, hospedados no charmoso e baratinho hotel La casa de mi abuela, que encontrei em algumas dicas do site O Viajante (companheiro nº 01 do meu planejamento), assim como a Giardino Tours, a agência que fica nos jardins do hotel, onde contratei o City Tour e o passeio a Chivay, cidade onde fica o Vale e Canion del Colca.

 

 

04/12/2011 - Arequipa - City Tour

 

Arequipa é a segunda maior cidade do país, fundada em 15 de agosto de 1540, com uma população de aproximadamente 750 mil habitantes, localizada no sul do Peru há 2335 metros de altitude. Lá nasceu Mario Vargas Losa, o famoso escritor e político peruano. A cidade geralmente serve de passagem para os turistas que querem começar a se acostumar com a altitude e os vulcões El Misti, Chachani e Picchu Picchu são seus principais cartões postais. 

 

Há uma lenda local que conta que Chachani (6075m) era uma mulher que cresceu junto a um homem, o El Misti (5825 m) e se apaixonaram, porém Picchu Picchu (5525 m) começou a gostar dela, mas ainda assim não foi correspondido e triste, chorou muito, suas lágrimas formaram o lago do topo do vulcão que tem a forma de um índio deitado. Ahhh, coitado...

 

O City tour começou pelo Mirante Carmen Alto, onde temos a vista da área agrícola da cidade (Valhe de Chilina), um contraste com entorno completente árido.

 

Seguimos para Yanahuara, onde novamente enquadramos o El Misti em seus arcos e visitamos a Igreja de São João Batista, esculpida em pedra vulcânica, em um estilo conhecido como barroco mestiço, já que em sua fachada há menção a figuras nativas.

 

Observamos que a crucificação de Cristo é demonstrada de forma diferente da nossa. Ao lado de fora das igrejas há uma cruz com apenas o rosto de Cristo e as ferramentas utilizadas.

 

Os arcos de Yanahuara tem em cada um a inscrição da frase de um peruano ilustre. Amei esse lugar.

Primeiro Arco: "La calleja que nadie transita, la farola que nunca se enciende, el tortuoso arrabal de donde habita buena gente que tiembla y se estrella cuando escucha la historia de un duende". José Luis Bustamante u Rivero.

Segundo Arco: “Aquí se hicieron cañones de metal de las campanas para encauzar los desbordes de lavas republicanas”. Cesar Atahualpa Rodríguez.

Terceiro Arco: “Ciudad con filosofía de semilla, pues donde cae un desacierto brota enseguida una revolución”. Alberto Hidalgo.

Quarto Arco: “Yo quisiera ser humilde como tu pueblo mío y volver cansado del trabajo cuando se hunde la luz”. Belisario Calle.

Quinto Arco: "Años se ha batido Arequipa, bravamente para conquistar instituciones para la patria, no se nace en vano al pie de un volcán”. Jorge Polar.
Sexto Arco:  “Que el pueblo que defiende en derecho lleva un muro invencible en cada pecho”. Benito Bonifaz – Cesar Atahualpa Rodríguez.
Sétimo Arco:“Soy arequipeño, y te amo como una madre con fe, tu grandeza hace mis ansias arder y arde el que intenta ultrajarte que en león me tornaré. Arequipa es recta tierra, lo afirmo lo afirmo bien”. Francisco Mostajo.
Oitavo Arco: “Místico Yanahurara, con huertas de Judea, cercado de ruinosos y rústicos torales por los que asoman los árboles frutales, adornando tus calles con paz de aldea”. Percy Gibson.

Nono Arco: “Arequipa la tierra de libres unida a los pies de un volcán: vives libre y feliz cuando vives prefiriendo ser libre a tu pan”. Alberto Guillen.

 

Continuando pelo City Tour, chegamos a Plaza das Armas (em todas as cidades peruanas há uma) e a Catedral. Há zilhões de igrejas no Peru e a colonização espanhola é espelhada em cada uma delas, mas nota-se também que normalmente há um grande sincretismo religioso. Na Igreja de La Companhia de Jesus há esculturas do sol e lua, deuses incas.

 

Em 2000, a cidade de Arequipa foi inscrita como patrimônio da humanidade pela Unesco e só posso dizer uma coisa: de acordo. A grande Catedral de duas torres, foi construída em 1621 e reconstruída duas vezes desde o século 19 depois de destruída por terremotos, novamente em 2001 sofreu grandes estragos. Ao atravessar a rua, a bela Plaza de Armas de Arequipa nos convida para observar os passantes de um de seus bancos.

 

Última parada da manhã: Monastério de Santa Catalina. Foi construído em 1550 em uma área de 20.400 metros quadrados. Para as famílias tradicionais era uma honra ter uma filha religiosa. Geralmente a segunda filha (seria eu então... vixe!!), que podiam cumprir com a exigência do dote de mil pesos de prata testada e marcada (por volta, hoje, de US$ 50.000,00) e cem pesos mensais para alimentos. Em meados do século XVIII a população se compunha de cinquenta e sete religiosas de véu negro, dezoito de véu branco, cinquenta e uma beneficentes e duzentas donzelas e serviçais. As monjas viviam para as orações, música e bordavam vestes em ouro que seriam utilizadas pela alta hierarquia da igreja.

 

Ao fim do city tour, estávamos famintos e segui a indicação de uma amiga quanto a um restaurante em Sachaca, chamado La Lucinda, do outro lado da cidade, longe pacas...  Pode até ser famoso, mas nossa primeira impressão da comida peruana foi de lascar, o rocotto relleno foi comível, mas os camarões foram de apavorar.

 

Após o almoço, voltamos a Yanahuara para tirarmos as fotos que não conseguimos mais cedo por estar muito cheio e corremos para o hotel, que tinha Globo Internacional, para assistir a final do Brasileirão (salve a Globo Internacional). Nosso Vascão não levou, mas foi lindo ver meu time na final. Após o jogo fomos a pé ao Centro e achamos uma galeria com um KFC, um Burger King e um Pizza Hut: parecia o paraíso.

 

 

 

05/12/2011 - Arequipa x Chivay

 

Arrumamos a bagunça das malas e cedinho seguimos em direção à Chivay para nos acostumarmos com a altitude e sofrer um pouco menos no dia seguinte com a visita ao Vale del Colca.  Nesse dia, tivemos a companhia de um casal de americanos e uma guia falante às pampas, e acabamos nos virando bem no portunhol e conseguimos até arranhar o inglês. A rota de saída da Arequipa nos levou pela zona industrial e por um bairro novo onde casas estão ainda em fase de construção, provavelmente para que a população que trabalha na produção possa estar mais perto do trabalho. Pobre sim, mas também bastante organizado, bastante diferente das favelas brasileiras.

Arequipa está a 2350 metros de altura e em meia hora de estradas já havíamos subido mais 1500 metros quando paramos para avistar as vicunhas. Animais da família dos camelos, assim como as lhamas e alpacas, mas que produzem uma lão mais fina e mais cara. As vicunhas são menores e não domesticáveis.
 

Paramos no meio da estrada para comprar artesanato com uma família local e fiquei apaixonada pelo Oscar, um garotinho de uns três anos. Isso mesmo, um garotinho vestido de garotinha que é mais uma peculiaridade do folclore peruano, onde os meninos se vestem de menina para que possam se disfarçar para se aproximar delas (no passado os pais eram mais severos). Minha máquina fotográfica ficou cansada de tanto trabalho. Fiquei doida com as lhamas, com a estrada e o visual e ainda com a sorte de um dia de sol e céu extremamente azul.

 

Continuamos subindo até uma parada no meio da estrada para "baño" e para experimentar o primeiro chá de coca, que tinha o objetivo de melhorar o mal de altitude, pois facilita a circulação. No Peru, utiliza-se a folha de coca como algo habitual, lembrando que a cocaína é resultado de um processo químico com a mesma planta, mas é completamente diferente, a folha in natura não oferece riscos de vício.

 

E lá seguimos nós pela meio das Cordilheiras, até o Mirante dos Andes, ponto mais alto do caminho, a 5000 metros. Até então, rolava apenas uma dorzinha de cabeça enjoada, mas dar 20 passos já era extremamente cansativo.  A partir desse ponto, tudo mudou, já  que até então achava que o mal de altitude era coisa de "mulherzinha", mas ela pegou o Bruno de jeito e ao chegar em Chivay precisamos recorrer ao soroche pills para estabilizar um pouco a situação.

 

Chivay é uma cidadela localizada no Vale del Colca, lá as mulheres ainda utilizam os trajes locais, com muitas saias coloridas e utilizam bastante o quechua (idioma inca). Paramos no mercado local e seguimos para nossa pousada onde ficamos descansando o resto do dia. Foi um tempo precioso para aclimatação.

 

O hotel La Casa de Mamayacchi fica no povoado de Coporoque, um poquinho afastado do centro de Chivay, com uma vista extraordinária do Vale. Fiquei encantada com o hotel, principalmente pela atenção da Juanita, a vista do quarto e a comida (a sopa de quinoa foi um manjar dos deuses) e o fato de não ter TV.

 

Saí sozinha à tardinha pelo povoado que tem meia dúzia de ruas, uma igrejinha e uma praça. Muitas crianças brincavam nas escadas da igreja e comprei uns pirulitos  para distribuir entre elas. Foi uma loucura!!! Jean, o menorzinho, foi meu fotógrafo e companhia de papo. A pracinha de Coporoque é um charme e tem uma big estátua de Mayta Capac, que foi um imperador inca (1290a.c).

 


06/12/2011 - Vale e Canion del Colca

 

Tínhamos que levantar bem cedo para pegar a estrada e chegar ao Canion antes do sol quente para tentar avistar os condores, que aparecem quando há correntes de ar. Para felicidade do Bruno, o café da manhã estava regado de cereais e já abastecidos, seguimos nosso rumo.

 

A região do Vale del Colca é completamente agrícola, mesmo sendo mega, ultra, hiper montanhosa, então, os incas, muito inteligentes, utilizaram um mecanismo chamado de terraços, formando pequenos platôs nas montanhas para cultivo em ordem crescente quanto a necessidade de água. Entre Chivay e o Canion, passamos por diversos povoados: Ianque, Achoma, Maca, Pinchollo, Cabanaconde, Ichupampa, Mirante Cruz do Condor, a paisagem é simplesmente maravilhosa. Só não tivemos sorte de avistar um condor.

 

O Canion del Colca, é considerado o canion mais profundo do planeta, com quase quatro mil metros de profundidade.

 

No caminho de volta paramos em um povoado que tem uma belíssima igreja colonial, com imagens espetaculares vestidas com os trajes locais. Nossa guia aproveitou o ensejo para pedir uma maozinha à Santo Antonio. Passamos em uma vendinha para experimentar o suco de Pitaia, fruta do cacto, parecida visualmente com o kiwi, mas super azedinha. Na verdade, a proposta inicial era uma caipirinha, mas como estava tomando antibióticos...

 

Voltamos a Chivay para o almoço no Qhapaq Nan, um self service com excelentes opções de comida peruana. Elegi a carne de alpaca e o Bruno ficou na quinoa (é mesmo praticamente um vegetariano), não tive coragem de experimentar o cuy, pois continuo até hoje achando que não se deve comer animais de estimação. De lá, fomos para a estação da 4-m Express, para pegar o micro ônibus que nos levou à Puno, com parada para fotos do Vulcão Chuchura, La laguna de Lagunillas e para avistar os flamingos. Sair do ônibus era uma tortura, a temperatura caiu horrores!!! Foram 360 Km de estrada percorridos em mais de cinco horas, pois pegamos muita chuva.

 

Pegamos o taxi dentro da rodoviária e seguimos direto para o hotel, seguindo as dicas de "não dar mole" em Puno. Eu já tinha fechado a reserva pelo Submarino Viagens, optando por um hotel 4 estrelas, já que todos os blogs comentavam que Puno é a cidade mais feia do  Peru (e também um tanto perigosa), tendo somente o Lago Titikaka como atrativo. Logo, o Eco Inn foi um oásis. Em uma viagem longa como a nossa, se dar o presente de não economizar em alguns hotéis, vale a pena!

 

 

07/12/2011 - Puno - Uros e Taquile

 

Café da manhã de reis e seguimos para o porto e em um pequeno catamarã seguimos pelo Lago Titikaka, o maior lago navegável e o mais alto do mundo, que está a 3820 metros acima do nível do mar e tem 8300 quilômetros quadrados, estando 60% em território peruano e 40% em território boliviano,  origem do seu nome ainda é desconhecida, mas acabou sendo traduzida como "Pedra do Puma", com combinação da língua local da região: Quéchua e a Aymará.

Primeira parada em Uros, que são 56 ilhas flutuantes artificiais, feitas de totora (parece uma palha mais grossa), cujo povoado sobrevive da pesca, do turismo e do artesanato.

 

Eu gostei muito desse lugar, ainda que tenha um objetivo muito turístico. Logo que desembarcamos, o patriarca da família nos deu uma mini palestra, informando como as casas são construídas, como pescam, como as crianças vão à escola e etc.

E não é que o carinha estava com uma camisa do Palmeiras?

 

As mulheres, chamadas de cholas,  com suas vestimentas coloridas, cabelos trançados, sempre com pompom na ponta, são uma atração à parte. Atenciosas na venda de seus artesanatos, agradecem a visita com canções e alegria.

 

Mais meia hora de barco e chegamos à Taquile, uma das 42 ilhas naturais do Lago Titikaka. Sem a altitude já seria dificil subir até o topo da ilha, mas a 3800 metros foi praticamente uma missão impossível, me senti naquele antigo comercial da Varig "para um pouquinho, descansa um pouquinho...". Acho que levei mais de 40 minutos para conseguir e ainda tive que aguentar a zoação do Bruno, que foi o primeiro a chegar (ele esqueceu que é só 23 anos mais novo e 23 quilos mais leve). Se valeu a pena? Putz... muito!!! Olha o visual (e o quanto subimos).

 

A única vila fica no alto montanha à 190 metros acima do lago. Para chegar até ela existem dois caminhos: uma escadaria com 538 degraus que leva direto a vila (por onde descemos) e por uma trilha de quase 3 quilômetros com subidas que passa por fazendas e pequenas comunidades. Conforme subíamos, encontramos muitos taquilenhos no caminho, subindo numa facilidade de dar inveja enquanto eu quase morria. Seus trajes logo nos chamaram a atenção pois são diferenciados conforme o estado civil de cada um. As mulheres casadas normalmente se vestem com saia preta e blusa de cores sóbrias. Sobre a cabeça levam um xale de lá negro. As moças solteiras também usam o xale, mas suas roupas são de cores vivas e com enormes e coloridos pompons nas pontas do xale. 

 

Os homens em geral usam calça e colete pretos e uma cinta larga e colorida na cintura. Junto à cinta levam uma bolsa onde carregam as folhas de Coca. A diferença entre solteiros e casados está no gorro. Os solteiros um gorro branco e vermelho e os casados um gorro vermelho. Se o homem solteiro está comprometido usa o pompom do gorro para o lado. Se está disponível, usa o pompom para trás.

 

O almoço foi oferecido por uma família local no terraço da casa, tudo uma delícia e de uma simplicidade maravilhosa. Retornamos a Puno no fim da tarde, demos uma volta no centro da cidade (de taxi) e retornamos para o hotel e por lá ficamos. Definitivamente, eu sou uma pessoa do dia e meu filho tem bem a quem puxar!

 

Os Taquilenhos têm um conjunto de três leis básicas herdadas dos antepassados Incas. São elas:

Ama Sua – Não seja ladrão.
Ama Kella – Não seja preguiçoso.
Ama Llulla – Não seja mentiroso.

 

Além disso, o principio de companheirismo e da reciprocidade são muito fortes na ilha.  Se alguém precisa de ajuda, todos ajudam. Cada comunidade tem um presidente a quem todos os conflitos e necessidades são apresentados. Como sinal de sua autoridade, estes chefes usam um gorro colorido sob um chapéu escuro. Todos os Domingos, depois da missa, os presidentes das diversas comunidades se reúnem com o prefeito (eleito por 4 anos) e discutem a solução dos problemas. Nunca terminam a reunião sem dar uma solução a cada caso. Isto ajuda a garantir um clima de paz na ilha. A comunidade de Taquile também é muito saudável. Existem poucas doenças e a média de vida é um das mais elevadas do Peru, chegando aos 85 anos. Isto se deve muito a vida tranqüila e ao fato de 98% das pessoas daqui serem vegetarianas. Os animais da ilha são usados para a agricultura, para tirar leite e lã.

 

 

08/12/2011 - Puno x Cusco

 

Tínhamos duas opções para ir de Puno à Cusco:  pegar um taxi até Juliaca, cidade vizinha e de lá um avião até Cusco ou de ônibus numa viagem de oito horas com diversas paradas para conhecer mais detalhes do sul do Peru (mais uma salva de palmas à excelente estrutura turística do país), através da Turismo Mer.

 

A primeira parada foi em Pukara, a 106 Km de Puno. Povoado de ceramistas que conserva o nome da primeira civilização do sul do Peru, que remota a 1600 a.c. Há um museu onde encontram-se peças de cerâmica, restos arqueológicos e peças liticas. Lá também se originou o costume dos tourinhos sobre os telhados, que representam proteção e sorte.

 

La Raya, o ponto mais alto do caminho foi nossa segunda parada que também é o limite entre os distritos de Puno e Cusco.

Único ponto em que conseguimos ver picos nevados nos Andes peruanos.

 

Almoço incluso no preço da passagem no Restaurante Phelipon. Excelente buffet, me acabei nas papas fritas, na carne de alpaca e na cebola roxa ao som de música peruana (com aquela flautinha sinistra) ao vivo. Na área externa do restaurante, o show ficou por conta de duas lhamas, a lhama comum clarinha e uma lhama negra suri, travando um ultimate fight.

 

Penúltima parada e o ápice na minha opinião: Raqchi, um sítio arqueológico que fica a 118 Km de Cusco, onde foi construído um grande templo dedicado ao deus Wiracocha. Há também residências, fontes, terrazas e "cilos" para armazenagem de comida. Era um centro de peregrinação. Os telhados não são originais. Eles eram de palha, mas a pallha estraga com o tempo. Assim, para que as ruínas sejam preservadas e protegidas contra as intempéries, foram colocados novos telhados.

 

E última parada: povoado de Andahuaylillas e igreja de São Pedro e São Paulo, chamada também de " la capilla sixtina de la America", cuja decoração toda de pinturas de santos e passagens bíblicas nos deixa sem fôlego. Pena que é proibido fotografar.

 

Enfim, fizemos amizade com o restante do pessoal do ônibus, duas senhoras guatemaltecas e um casal de paulistas e viemos conversando sobre as expectativas para o grande ponto da viagem: Macchu Picchu... deu até um friozinho na espinha.

 

A chegada em Cusco foi como Arequipa, um misto de tensão e frustração. Chegamos pelos fundos da cidade, a área pobre, sem asfalto e no meio de uma confusão infernal no trânsito. Conforme íamos nos aproximando do centro, a má impressão foi passando, isso sem contar no temporal que parecia que ia cair...

 

 

09 a 13/12/2011 -  Cusco e arredores


Em Cusco, fiquei com medo de perder tempo e dar algo errado na ida à Macchu Picchu, então fechei um pacote com a Intitours, uma agência com foco no turista brasileiro, já que é de uma brasileira casada com um peruano. Não me arrependi, pois o Amarildo foi mega atencioso tanto no planejamento quanto na execução do pacote no período em que estive em Cusco.

 

Com a manhã livre, descemos de San Blas, onde estávamos hospedados, para a Plaza de Armas e ficamos pelas redondezas, andando a pé e sentindo o clima. Aproveitamos para ficar uma hora no Museu Inca, que estava fora do boleto turístico, tirar dinheiro no ATM e almoçar no Mc Donald's. Acredite se quiser!!!

 

Em Cusco, há um boleto turístico turístico que dá direito a diversos pontos turísticos, custa 130 soles (aproximadamente R$90,00) com validade de cinco dias, normalmente o tempo que permancerá na cidade e nos arredores. Vale muito mais a pena que pagar por cada ponto que deseja visitar.

 

Cusco fica a uma altitude de 3400 metros. Seu nome significa "umbigo", no idioma quechua. Era o mais importante centro administrativo e cultural do Tahuantinsuyu (Império Inca). Lendas atribuem a fundação de Cusco ao Inca Manco Capac no século XI. Depois do fim do império, em 1532, o conquistador espanho Francisco Pizarro, invadiu e saqueou a cidade (FDP). A maioria dos edifícios incas foi arrasada pelos clérigos católicos com o duplo objetivo de destruir a civiliação inca e construir com suas pedras e tijolos as novas igrejas cristãs e demais edifícios administrativos dos dominadores, desta forma impondo sua pretensa superioridade européia.
 

Eu, particularmente, fiquei encantada com Cusco: a arquitetura é ímpar, os balcões esculpidos lindamente em madeira, os jardins muito bem cuidados, a limpeza das ruas e a organização turística.

 

No centro de Cusco, a melhor opção é bater perna pelas ruas, aproveitando as visitas às igrejas e aos museus, com atenção especial ao Templo do Sol, que em idioma quechua chama-se Coricancha. Construído pelo imperador inca Pachacuti, é feito de pedras polidas e encaixadas perfeitamente. Era um local de rituais e oferendas ao deus Sol, cultuado pelos Incas. Foi destruído pelos conquistadores espanhóis, que sobre ele erigiram uma igreja. De forma interessante, o grande terremoto de 1950, destruiu uma construção de padres dominicanos (pela segunda vez, a primeira ocorreu em 1650) e expôs o Templo do Sol, que resistiu firmemente ao terremoto, graças às técnicas incas de construção.

 

Nos arredores de Cusco, há vários sítios arqueológicos bem interessantes, cujas fotos não ficaram 100%, porque fomos visitá-los com bastante chuva. O primeiro deles é Sachsayhuaman, uma construção que supõe-se foi construída originalmente com propósitos militares para defender-se de tribos invasoras que ameaçavam o Império Inca, iniciada em 1438. Atualmente se pode apreciar somente 20 porcento do que foi o conjunto arqueológico, já que na época colonial os espanhóis destruíram seus muros para construir casas e igrejas em Cusco. É nesse sítio, que em junho, é comemorado  Inti Raymi, a festa do Sol.

 

Seguimos para el Qenqo, um outro sítio arqueológico, mas chovia tanto que nem saímos do carro. Ainda bem que a chuva deu uma trégua e seguimos para Tambomachay, o templo da água e Pukapukara, retornando a Cusco no fim do dia.

 

Cusco realmente é uma cidade linda e turisticamente bem estruturada. Ficar hospedado em San Blas é um charme a mais, pois está a duas quadras da Plaza das Armas e bater perna nas ruas estreitas e charmosas vira obrigação com prazer. Na pracinha de San Blas, há uma pequena igreja que vale uma visita (eu fui à noite e havia um casamento, praticamente uma penetra, o mesmo aconteceu na Igreja das Mercedes - ô povo casamenteiro!!).


Acordamos cedinho no dia seguinte para seguirmos em direção à Maras, Moray e Salineiras (aproximadamente 75Km). Em Maras, paramos em um associação de artesãs, para conhecer o trabalho com lã de alpaca. Havia a expectativa de avistarmos os cumes nevados de Chacon e Veronica, mas o tempo estava muito nublado e chuvoso.

 

Moray, mais adiante, é mais uma descoberta do Império Inca, prova das técnicas agrícolas, que são grandes círculos cavados na terra, onde cada degrau tem seu micro clima, específico para tipos diferentes de plantação. É meio frustrante descobrir que o fundamento não é algo saído de "eram os deuses astronautas", porque o local tem toda pinta de místico.

 

Salineras, local onde os andinos extraem o sal para consumo e exportação. Eu me espantei com a grande montanha de sal, já que achava que sal só no mar... como dizia vovó: "vivendo e aprendendo".

 

Esse roteiro retorna cedo à Cusco, almoçamos no Inka Grill (alpaca de novo, fiquei meio viciada), assistimos ao final da UEFA Barça x Real Madri e vale aproveitar o fim da tarde para visitar um ou mais dos muitos museus espalhados pela cidade e inclusos no boleto turístico. Fiquei impressionada em como os peruanos torcem pro Barcelona. Acho que o Barça está para o Peru, como o Corinthians para São Paulo. Há fotos do time estampadas nos rótulos dos refrigerantes e  biscoitos, o Messi é tido como Pelé!!!

E aí chegamos ao dia 11, o grande dia: Vale Sagrado dos Incas - Pisac, Ollantaytambo e rumo ao trem para Águas Calientes. Sem dúvida, todo turista fica na fissura para Machu Picchu, mas vamos lá, o que precede é inesquecível!!!! 

Pisac, na minha humilde opinião é um dos lugares mais lindos do Peru e fico imaginando como seria em um dia de sol, já que amei mesmo com chuva!!! Fica à 33 Km de Cusco e tem uma excelente feira de artesanatos (inclusive com excelentes trabalhos em prata - comprei uns brincos lindos!!!) e a melhor empanada que comi em todo o Peru.

 

O sítio arqueológico divide-se em duas partes bem distintas: o povoado colonial, junto ao rio, e o complexo arqueológico, suspenso no alto de uma montanha. É lindo, principalmente pela harmonia entre a arquitetura e a natureza. As construções são vistas em grupos de estruturas dispersas entre as ladeiras do serro e seu pico. Arqueólogos acreditam que Pisac foi parte da herança de Pachacutec, imperador que ordenou sua edificação.  Os restos mortais da civilização inca que ali viveu, estão enterrados na montanha ao lado. As cavidades vistas na foto são catacumbas!!! Muito interessante!!!

 

Paramos para almoçar em Urubamba, em um local do tipo armadilha para turistas, com comida péssima e sem atrativos visuais. De lá seguimos para Ollantaytambo, única cidade da era inca no Peru ainda habitada. Em seus palácios vivem os descendentes das casas nobres cusquenhas. Os pátios mantêm sua arquitetura original. É um sítio arqueológico lindíssimo e de lá sai o trem para Águas Calientes, ponto de partida para Machu Picchu.

 

E enfim, o que entendíamos como ser o ápice, se tornou apenas mais um dos belos lugares do Peru. Fazendo um balanço total da viagem, valeu a pena cada lugarejo, cada minuto e não podemos nos ater somente à Velha Montanha.

 

Em Ollantaytambo pegamos o trem que circunda as montanhas até a cidadezinha base, que tem duas ruas principais em paralelo ao rio e mais uma onde ficam os restaurantes, pousadas e etc. Já chegamos ao anoitecer, colocamos a mochila no quarto e saímos para comer. A escolha da noite foi o El indio feliz, um bistrô espetacular, tanto na comida, quanto no atendimento e na pessoalidade. Dormimos cedo, pois a saída dos micro ônibus para o sítio de Machu Picchu é com hora marcada no tícket (que compramos antecipadamente através de uma agência em Cusco, assim como a entrada para MP e a passagem do trem).

 

obs.: Na estação, tomei o melhor chocolate quente da minha vida.

 

De Águas Calientes até a entrada do Parque percorremos por uns 20 minutos por uma estradinha estreita (quando um ônibus desce, o que sobe para o mais grudado na encosta possível). Particularmente, eu aconselho a ler a história da cidade perdida na internet ou comprar um guia detalhado para percorrer todo o sítio. Não tivemos muita sorte, o guia que nos acompanhou não era nada carismático, com um péssimo inglês e um espanhol impossível de entender. Mas não dá pra ser tudo perfeito e tivemos a compensação no dia anterior com o guia do Vale Sagrado.

 

Machu Picchu é um lugar espetacular e indescritível, somente um pensamento: era um povoado fechado e de subsistência, pois o local era de muito dificil acesso. 2011 completa os 100 anos de descobrimento do sitio arqueológico, com direito a carimbo no passaporte.

 

No fim da tarde, fizemos o mesmo caminho ao inverso para chegar até Cusco, ficamos mais um dia por lá, visitando os demais museus do boleto turístico e no fim do dia 13, retornamos a Lima para então curtirmos a última semana das férias.

 

Lima - 14/12/2011 a 22/12/2011

 

A idéia inicial era não ficar tanto tempo em Lima e sim ficar dois dias em Huaraz, mas as condições climáticas não ajudaram, pois as chuvas lá, atrapalharam os planos. Assim, saímos de Lima somente por duas noites para conhecer  o deserto de Huacachina e a Reserva de Paracas e Islas Ballestas, em Ica, cidade à aproximadamente cinco horas de Lima.

 

Em Lima, nessa segunda etapa, fiquei hospedada no B&B Wasi Miraflores. uma excelente pousada pelo custo x benefício, no coração de Miraflores, à dois quarteirões do Huaca Pucllana. Tanto a dona da pousada, quanto o pessoal da recepção foram nota 10 (paguei 25 dólares pela diária).

 

Para chegar à Huacachina, peguei um ônibus da Cruz del Sur até Ica e da rodoviária até o oásis, um taxi (20 soles). Fiquei no El Huacachinero e lá mesmo fechei meu passeio às Islas Balestas e Paracas e ao passeio de buggy com sandboard. 

 

Retornando a Lima, tívemos tempo de sobra para bater perna pelo centro histórico, assistir à troca da guarda no palácio do governo, ficar um tempo enorme na catedral metropolitana. Detalhe: há um lugar que é completamente imperdível: a igreja e convento de São Francisco com suas catacumbas no subsolo.

 

Vale muito a pena almoçar no belíssimo restaurante La Rosa Náutica que fica na ponta de um pier dentro do pacífico (e não é impagável como eu imaginava) e depois subir até ao Parque do Amor (a escadaria também não é "insubível") e ainda a pé chega-se ao shopping Lacormar e desfruta-se as charmosas ruas do bairro de Miraflores. E é claro que não perdemos os dois sítios que ficam encravados na cidade: Huaca Pucllana e Huaca Huallamarca, nesse último há uma múmia que, enquanto viva, não deve ter nunca cortado o cabelo.

Saindo uns 25Km de Lima, há um sítio arquelógico chamado Pachacamac e um bairro chamado Chorrilos, onde há uma vista linda do litoral de Lima, com direito a um Cristo (que não é o redentor) e uma charmosa capela ao ar livre.

 

Seguindo para o lado contrário, em direção a Callao, a opção é visitar o Forte Real Felipe, o Museu Larco e fazer o passeio das Islas Palomino (bastante similar às Islas Balestas, porém mais sofrível para lá chegar: o mar bate demais e a viagem é mais longa).

 

Sem dúvida, havendo possibilidade, retornarei ao Peru para conhecer o Norte, incluindo Huaraz. Temos muito a aprender com nosso vizinho que tem uma estutura excelente para o turismo, infinitamente melhor que a nossa. Há respeito e cobrança de preços justos.

 

 

Vale Sagrado

Lima e Arredores

Arequipa, Puno, Taquile, Chivay e Colca

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