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México, muito além de Cancun

 

Há nove meses eu havia estado em San Andrés, ali perto da Nicarágua, mar caribenho, ainda que território colombiano. Esse foi o primeiro motivo que me levou a nem cogitar as praias mexicanas no meu roteiro. O segundo motivo foi que, para vinte dias, com aquele território enorme, eu teria que definir prioridades para evitar o desgaste do deslocamento, trâsito de bagagens e o cansaço maior que o aceitável para férias e então a história foi minha opção. O terceiro e último motivo foi meu anjo da guarda, que sempre sopra no meu ouvido: durante minha estadia, Patrícia, um dos furacões previstos como um dos mais violentos, passou pela costa mexicana e eu estava bem longe. A opção de deixar as praias de lado me deu em troca a opção de incluir uma cidade muito tradicional para o Dia de los Muertos e de mergulhar um pouco mais nas antigas civilizações, que incluíram os zapotecas e mixtecas, pouco famosos se comparados aos astecas e mayas.

 

O bom de viajar por 20 dias é a falta de pressa. Sozinha então, melhor ainda... sem pressa para acordar, saborear o café, gastar horas nos incríveis murais espalhados na cidade, photostreetear, visitar o supermercado local, conversar em portunhol enquanto espera o ônibus, gastar em um almoço aquilo que havia projetado para três dias. E 20 dias é muito? Não!!! Para o México é pouco. Muito pouco!!!

 

Vou separar o post e fotografias em quatro partes: Cidade do México e arredores, Oaxaca e arredores, Em direção à Chiapas e Centro (Festa de los Muertos), pois foram os quatro destinos base.

 

 

CIDADE DO MÉXICO E ARREDORES 

 

Vôo cansativo,  nove horas (sem contar o trecho Rio x Guarulhos e o tempo infernal de conexão). Cheguei na Cidade do México às 7:00 pelo horário local. Ainda que gastando um pouquinho mais, já havia reservado o hotel com a diária a partir do dia anterior para evitar ter que esperar até 14:00 para o check in, o que foi muito bom porque eu precisava dormir e ainda por cima, chovia. Quando acordei, já estava disposta para perambular a pé e tentar pegar o clima da cidade e até a chuva já tinha dado uma trégua. A partir do hotel no bairro Juarez, peguei a badalada Avenida Paseo de La Reforma no sentido do Museu de Antropologia. Já pela Avenida você sente que a cidade está anos-luz à frente do Rio de Janeiro no quesito policiamento. Bem, eu viajei sozinha, andei muito sozinha, com uma câmera profissional relativamente cara e não me senti insegura um só minuto, apesar de todas as mil recomendações recebidas com relação ao perigo. Cheguei à conclusão que os cariocas estão realmente jogados às traças e ao descaso da administração pública. Essa área da cidade é muito moderna, prédios gigantes, embaixadas, grandes empresas, bolsa de valores, shopping centers, similar à Avenida das Américas, porém mais organizada e mais amigável, com jardins (e pessoas sentadas nos bancos sim!!!), muitos cafés, exposições ao ar livre, bicicletas nas ciclovias. Aos domingos, o trânsito é fechado aos carros e vira uma enorme área de lazer, que comporta inclusive competições, como um Aterro do Flamengo.

Refiz meu roteiro de forma a passar para os primeiros dias, os pontos turísticos fechados,já que a chuva e o frio incomodaram um pouquinho.   E o recomendadíssimo Museu de Antropologia sugou toda minha tarde, com seu grande pátio retangular, cercado em três lados por dois andares de exposições. O andar térreo reserva as exposições relacionadas ao México pré-hispânico, enquanto acima, as salas estão reservadas  aos descendentes indígenas. Tudo é muito organizado. Passar pelas salas correndo seria um desperdício. É nesse museu, que está exposta a Pedra do Sol, também conhecida como Calendário Asteca, encontrado em 1970 nas escavações arqueológicas do Templo Mayor. De deixar o queixo caído!!!

Na Cidade do México, usei muito o serviço do  Turibus, que é um ônibus panorâmico de turismo, onde você pode descer em qualquer ponto, retornando posteriormente, além da possibilidade de usar os quatro circuitos. O negócio funciona relativamente bem por um preço bem barato (140 pesos, aproximadamente 33 reais), mais barato que taxi e mais confortável que o metrô. Claro que o ápice desse circuito foi a chegada ao Museu Frida Kahlo, a casa azul onde a majestosa pintora nasceu e cresceu, onde viveu com o Rivera e onde repousa suas cinzas (em uma urna, sobre a penteadeira no quarto superior). Mas vamos falar sobre Coyoacán, que na língua nativa mexicana náuatle significa "lugar de coiotes", bairro que mantém sua identidade tranquila, com ruas estreitas da era colonial, cafés e bares aconchegantes. Porém no Jardim Centenário, assim como na Praça Hidalgo, sendo domingo, há um fervilhão de pessoas curtindo os músicos, mímicos e artesãos e a visita fica mais interessante ainda. Da praça até a Casa Azul são seis quadras, passando pelo Mercado, mas antes de seguir vale uma parada na Igreja de San Juan Batista. Eu acredito que se o dia estivesse ensolarado eu teria mais interesse em passsar pelos demais pontos do Turibus, principalmente para ver de pertos os mosaicos de Juan O'Gorman que cobrem as paredes dos dez andares da Biblioteca Central, mas confesso que nesse dia fiquei no modo turista superficial, dominada pelo péssimo humor dos dias nublados.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Na segunda-feira, pelo hotel, consegui o contato de uma agência de turismo e resolvi fazer as Pirâmides de Teotihuacan.  Seria fácil ir por conta própria, mas cheguei à conclusão que um tour facilitaria a questão de conhecer a história através de um guia, além de conhecer pessoas e me misturar um pouco mais. A parte ruim foi que a Monopolis leva à sério os acordos firmados com os comerciantes locais e exagera no tempo destinado às compras e consequentemente reduz o que interessa. Nesse tour, o tempo gasto na loja caríssima próxima às Pirâmides, poderia ter sido utilizado na Basílica que foi insuficiente. O mesmo aconteceu no tour à Taxco com as lojas de prata, cujo tempo poderia ter sido utilizado para percorrer as lindas ruas do vilarejo e eu praticamente "briguei" com o guia para não entrar na segunda loja. Mas vamos ao que interessa...

 

O complexo das Pirâmides de Teotihuacan já foi a maior cidade da mesoamérica e está distante da Cidade do México em 50 Km. É a maior cidade antiga do país e a capital do que foi provavelmente o maior império pré-hispânico do México. A única coisa muito incômoda são os vendedores ambulantes (me senti em Salvador, me desviando das fitinhas). O tempo abriu, o sol apareceu com o céu azul mais intenso que jamais havia visto. A cidade era dividida em quartos por duas grandes avenidas que se uniam perto de La Ciudadela, uma delas com um traçado norte-sul, é a famosa Calzada de los Muertos, chamada assim porque os astecas acreditavam que as imensas construções que a ladeavam eram tumbas enormes, construídas por gigantes para os primeiros governantes de Teotihuacan (do século 1 até o século 8, os astecas apareceram posteriomente).  Embora a antiga cidade tomasse 20Km2 de território, a visitação está restrita aos 2km da Calzada com seus os principais monumentos: o Templo do Sol e o Templo da Lua em cada extremidade.

 

Pirâmide do Sol - é a terceira maior do mundo, perdendo para a de Queops no Egito e a de Cholula, também no México (mas essa só tem maior base, logo, no olho eu já a promovo à segunda maior, com 222 metros de base de cada lado e 70 metros de altura e 248 degraus. A crença dos astecas que a estrutura era dedicado ao Deus Sol foi confirmada em 1971 com a descoberta arqueológica de artefatos religiosos em um túnel subterrâneo de 10 metros que vai do lado oeste até uma caverna bem no centro da pirâmide. Acredita-se que a parte frontal era pintada de vermelho, tornando a visão com o pôr do sol pra lá de radiante.

 

Pirâmide da Lua - aparentemente tem a mesma altura da Pirâmide do Sol, mas foi na verdade construída em uma parte mais alta do terreno. Foi concluída posteriormente, por volta do século 300. A Plaza de la Luna, bem em frente é espetacular, tem doze plataformas de templos, que totaliza treze com a própria pirâmide, o que os arqueólogos entendem ter a ver com o calendário mesoamérico.

 

 

 

 

 

Parada para o almoço e meu primeiro contato direto com a comida mexicana. Não vou me prolongar no assunto: meu problema não foi a pimenta, mas sim o milho. Toda massa tem milho: tortilhas, tacos, nachos, quesadilhas. Uma tortura. O frango é anêmico. Não rola um bifão e as famosas sopas são ralas. Tive sorte apenas em um restaurante com um frango com molho de pimentões em Taxco e em Puebla com o "mole". Provavelmente vou ficar um  bom tempo sem comer no Subway porque extrapolei meu limite de sandubas por uma vida.

 

No fim da tarde fizemos a visita rápida à antiga e nova catedral de Guadalupe. A antiga está nitidamente cedendo e tombando, internamente dá para sentir uma ligeira ladeira e a nova, de 1970 é espetacularmente linda por dentro, o que surpreende por seu exterior simplório. A Virgem de Guadalupe foi declararada oficialmente a padroeira do México em 1937 e sua imagem está por todos os cantos.

 

Como todas as grandes cidades de países colonizados pela Espanha o Centro da Cidade do México reserva uma grande praça, lá chamada de Zócalo, construída sobre o que, alguma vez, foi o epicentro de Tenochtitlan (capital da civilização asteca). É uma das maiores do mundo, foi testemunho de importantes eventos políticos, cívicos e culturais do país no últimos 700 anos. Debaixo da praça, na estação do metrô, é possível ver maquetes e fotografias da região através dos séculos. Ao redor, a Catedral que levou 200 anos para ser construída  o Palácio Nacional, onde os murais fantásticos de Diego Rivera, chamado “México através dos tempos”, pintado entre 1929 e 1951, deixou meu queixo simplesmente no chão!! Há pouco tempo, descobri que há possibilidade de vislumbrar o Zócalo do alto do campanário da catedral, mas não fiz. Vacilona, não estudei o destino como deveria.

 

E enfim, chegamos ao Templo Mayor, que foi um dos principais templos dos astecas na sua capital Tenochtilan, atual Cidade do México. O templo era dedicado a dois deuses simultaneamente: Huitzilopochtli, o deus da guerra e Tlaloc, deus da chuva e da agricultura, cada um deles com um santuário no topo da pirâmide e cada um destes com a sua própria escadaria. Medindo aproximadamente 100 por 80 metros na base, o templo dominava um Recinto Sagrado. A construção do primeiro templo teve início algum tempo depois de 1325, tendo sido reconstruído posteriormente por seis vezes. O templo foi destruído pelos espanhóis em 1521 e ruínas foram tombads pela Unesco em 1987. Os objetos encontrados nas escavações  atualmente fazem parte do acervo do Museu do Templo Maior, que merece algumas horas de atenção. O acervo ainda contempla a medalha recebida pela guatemalteca Rigoberta Menchu pelo Nobel da Paz de 1992, pela sua campanha pelos direitos humanos a favor dos povos indígenas, doada pela própria ao México, onde esteve exilada por anos.

 

E então eu tive que voltar ao Centro em um outro dia para fazer os demais pontos turísticos dessa vez começando pela Alameda Central que é um grande parque com muitas árvores, fontes e bancos e que tem em uma de suas extremidades o Museu Mural Diego Rivera, que foi construído em 1987 com o objetivo de guardar o grande mural “Sueño de una tarde dominical en la Alameda Central”, que originalmente estava no restaurante do Hotel del Prado até que este sofreu danos em um terremoto (mas o mural nada sofreu). No dia, o museu não mantinha nenhuma outra exposição, mas só o mural vale a visita e um senhor chamado Arturo me contou toda a história do mural e ainda me levou ao subsolo para ver fotografias de como um estacionamento se tornou o museu e como o mural foi transportado. Diego Rivera, mais um vez me encantou. O mural, de 65 metros quadrados,  conta a história do México em ordem cronológica: com a conquista pelos Espanhóis, o massacre dos infiéis com o domínio da Igreja Católica, a manifestação dos direitos da mulher. Trata-se também de uma das mais polémicas obras do pintor, graças à inscrição da frase "Deus não existe", situação que remeteu o mural para a censura, ficando nove anos sem ser exposta. Apenas em 1956 o mural voltaria a ser exibido livremente, depois de Rivera ter substituído a controversa frase por uma outra inscrição. E é nessa obra que a Catrina, o mais famoso personagem folclórico do México foi imortalizado, mas isso é papo para mais tarde.  Cheguei cedo e o museu estava fechado, então aproveitei para ir em La Ciudadela (umas quatro quadras da Alameda), um local que centraliza a venda de artesanatos, onde fui comprar os crânios coloridos, que deixei de comprar em Oaxaca pela metade do preço, porque fiquei com medo de quebrar na agitação entre uma cidade e outra.

 

Na outra extremidade da Alameda Central está o fantástico Palácio das Artes. Dez minutos depois que entrei, começou uma visita guiada gratuita. Eu sou sortuda???? Mais ou menos.... Eu acho que foi para compensar a falta de sorte com o cancelamento da apresentação do Ballet Folclórico exatamente no dia em que eu estava na cidade. Na verdade, só descobri a visita guiada por conta da minha cara de decepção na bilheteria.  No fim da visita, a  funcionária que fica na função de informações estava do lado de fora com um cartão postal do Ballet para me presentear e o mais interessante ela estava estudando português com um professor paulistano.

 

Atravessando a rua, contrastando com a arquitetura, encontra-se a Torre Latino Americana, o primeiro arranha-céus da cidade, construído entre 1949 e 1953 com 43 andares. Na cobertura há um mirante interessante com visão 360 graus da cidade abaixo, incluindo a Calle Francisco Madero, onde fica a Casa dos Azulejos (prédio que vale pela arquitetura, não pelo café) que corta o centro da torre até o Zócalo e foi essa que atravessei  mais uma vez para então visitar os murais de Orozco e Siqueiros no antigo Colégio de Santo Idelfonso. Imperdíveis.

 

E a vida noturna? Não sei dizer como é!!! Eu tinha três programas no roteiro: o ballet, a luta livre e os mariachis na Plaza Garibaldi. Os dois primeiros tive um desencontro de agenda e o terceiro optei por não ir porque estava sozinha e sempre que chegava cansada no hotel, depois de andar como um camelo por todo dia, a preguiça me vencia.

 

Castelo de Chapultepec  -  Trata-se de um palácio, localizado no alto da colina de Chapultepec, no centro do Bosque de Chapultepec, onde está localizado o Jardim Botânico, Zoológico. É uma área gigantesca e andei por toda a manhã e posso garantir que não conheci tudo.  Construído na época do Vice-Reino da Nova Espanha como casa de verão e depois foram-lhe dados diversos usos, desde armazém de pólvora até academia militar, em 1841.

 

Museu Soumaya - Inaugurado em 2011 pelo seu fundador, o empresário Carlos Slim, o museu abriga uma das mais importantes coleções particulares de arte e conta com a maior coleção de  Rodin fora de território francês, também há obras de Pietro Bazzanti e Camille Claudel. A arquitetura é só para abrir o apetite. São seis andares, divididos em seis grandes salas. Há obras de Diego Rivera, Rufino Tamayo, José Clemente Orozco, David Alfaro Siqueiros e Dr. Atl, Georges Braque, Salvador Dalí, Pablo Picasso e Joan Miró; Jean-Frédéric Maximilien de Waldeck e Mónico Guzmán Álvarez, assim como peças de cerámica, concha e piedra de arte mesoamericano procedentes de Colima, Guanajuato, Jalisco e Nayarit.

O mais interessante é que a inauguração teve a participação de Gabriel Garcia Marquez, o nosso Gabo.

 

Xoximilco - fica distante uns 20Km do centro e é conhecido como "Veneza Mexicana", pois seus canais abrigam barcos coloridos, chamados "trajineras", que levam os turistas para cima e para baixo, ao som de mariachis e marimbas (pagos à parte). Eu, particularmente não gostei, achei enfadonho, os canais fedem e é muito "turistão". Talvez no fim de semana seja um pouco mais animado e interessante. Mas eu não indico. Para ajudar, no retorno, pegamos o famoso engarrafamento fenomenal da Cidade do México.

 

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PUEBLA E OAXACA

 

E no fim, pelo comodismo, optei por ir para Oaxacana partir de Puebla, onde cheguei por um tour, onde conheci um casal de espanhóis de Salamanca e batemos perna pelas ruas. Paramos para almoçar em um local bem interessante, La casa de los muñecos, onde experimetamos a deliciosa cerveja pueblana e o famoso frango com "mole", o molho estranho com chocolate. Acho que foi o que de mais diferente comi em todo México e que curiosamente gostei.

 

No fim do tour, me deixaram na rodoviária para continuar para Oaxaca, em uma distância de aproximadamente quatro horas em ônibus relativamente confortável, treinando o espanhol com um filme na TV. Da Estação de Oaxaca até o Centro histórico foram dez minutos, onde ficava meu hotel, brilhantemente escolhido, colado ao Zócalo, onde não parecia estar muito seguro, pois alguns acampamentos de manifestantes ocupavam os arcos dos prédios centrais, mas no fim nada aconteceu. Foi uma das cidades que mais gostei, é o reduto indígena do país  e o melhor local com relação aos artesanatos (fui idiota em levar uma mala pequena).

 

No primeiro dia, pela manhã fui ao Monte Alban, a antiga capital zapoteca, um sítio arquelógico 400 metros acima a cidade. Na entrada, há um museu bastante interessante com toda a explicação sobre a primeira civilização a utilizar a escrita. As esculturas dos "dançantes" me deixou encantada, assim como a representação das mulheres em trabalho de parto. De lá fomos a uma comunidade e casa de um escultor para a comum venda casada de artesanatos, mas acabou que foi bem legal e até me rendi a comprar um sapo. Almoçamos em um racho e o dono estava com uma camisa do Brasil!!! Seguimos na parte da tarde para o Templo Cuilapam Guerrero, também conhecido como Convento de St. James,  uma obra majestosa iniciada em 1559 e nunca foi concluída. Foi planejado para atrair tantos povos indígenas que se converteu ao catolicismo, as dimensões gigantescas que exibe sugerem que tendo terminado pode ter sido o monumento melhores e mais bonitas da América colonial espanhola. Neste local foi baleado general Vicente Guerrero um 14 de fevereiro de 1831, um dos independentistas mexicanos. Quando cheguei no hotel, tinham cinco mil mensagens no celular por conta das notícias que estavam chegando no Brasil sobre Patrícia, um mega furacão que havia passado pelo litoral mexicano que provocou muita destruição e eu completamente alienada no meu torpor de férias históricas. Ainda bem que eu havia escolhido estar longe das praias.

 

No segundo dia, parte do pessoal do dia anterior estava no meu tour e ainda fiquei treinando meu inglês ruim com um americano no hall do hotel que inclusive me chamou para jantar, seguimos para Teochillan del Valle, pueblo com tradição nos tapetes cuja lá é colorida com plantas e outros colorantes naturais (poupei meu bolso, porque estavam fora do meu orçamento) e paramos nas bodegas de mezcal e tequila. Lá eu com a gengiva dormente com as provinhas!!! Na parte da tarde fomos ao Sítio de Mitla, com sua arquitetura espetacular, formada de mosaicos e depois fomos para  Hierve el Agua, uma formação rochosa que parece uma cachoeira de pedras. Nesse caso, as fotos valem mais que mil palavras.

 

Últmo dia: photostreet!!!! Tirei o dia inteiro andando pelas ruas, entrando nos mercados, visitando as igrejas e museus. Chorei na emocionante missa da catedral. Acabei com minha sapatilha. Me rendi às batas bordadas. Assisti a uma manifestação de feministas. Tomei café em várias paradas. Almocei no restaurante sobre os arcos da praça e fiquei vendo a vida oaxacana passar. No fim da tarde, tomei meu rumo para rodovária para seguir rumo à região de Chiapas, ainda mais ao sul, para a cidade de San Cristobal de las Casas, 13 horas de viagem.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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CHIAPAS

 

Eu queria ir ao sítio arqueológico de Palenque e fiz a escolha incorreta, não que San Cristobal de las Casas não tenha sido legal, mas é que eu poderia ter seguido direto para Palenque (seriam 3 horas a mais), continuado para Mérida (seriam 7 horas a mais na noite do dia seguinte) e o famoso sítio Chichén Itzá, e então teria voltado de Merida para CDMX de avião, assim como fiz ao voltar de Tuxtla. Teria aproveitado mais porque não vi nada de interessante em Agua Azul (que estava barrenta) e Misol Ha (parece que só estão lindas em uma parte do ano) e o tal Canion do Sumidero também não, só demonstrou que as garrafas pet são as grandes vilãs do meio ambiente. Esses dois passeios mais o dia chuvoso de San Cristobal seria o suficiente para ir mais ao sul.

 

Na manhã de chegada, com a chuva, optei por ir para o hotel, único ruim de toda a viagem, mas bem localizado, levantei um pouco antes do almoço, ainda chuviscava mas ainda assim saí para comer e para reservar os passeios dos dias seguintes, a cidade é minúscula e em dez minutos dá para cruzar a Praça 31 de maio até o Cerro de Guadalupe pela movimentada Calle Real Guadalupe, somente de pedestres. A minha sorte é que nesse período estava acontecendo o Festival Cervantino, com apresentações de escolas de ballet, música, um show de tango  e crianças apresentando Don Quioxote.

 

E então vou me ater a falar de Paleque, que realmente foi o ápice da viagem ao sul do México. De San Cristobal até o sítio arqueológico é uma longa viagem, partindo às cinco da manhã, o que possibilita ver o sol nascer entre as montanhas e florestas, com aquela neblina suspensa. Se tivéssemos seguido à Palenque direto teria sido mais produtivo, pois já chegamos no fim da tarde, pois paramos nas tais cachoeiras sem graça.

 

Jóia da arqueologia no México, Palenque é o mais importante conjunto de ruínas maias da América Central. Sob o comando de K’inich Janaab’ Pakal – Pacal, o Grande – seu governante mais importante, que assumiu o poder no ano de 603, Palenque viveu o auge da construções de edifícios inovadores. Um dos projetos mais impresssionates foi o hoje chamada de Palácio, com paredes e teto cobertos de argamassa feita com conchas moídas e cal, moldadas com figuras que representam as cerimônias e atividades dos governantes e dos deuses. O Templo das Inscrições, a imensa pirâmide que domina a praça central , também conta o dia-a-dia de quem governava os maias da cidadela. Sua importância não para aí. O edifício é um dos mais estudados do mundo maia, não apenas por ter uma função crucial – servir de monumento funerário para o rei Pacal – mas também por ter as incrições mais detalhadas e importantes já encontradas por quem pesquisa o mundo maia. Há, ainda, painéis esculturais dentro da tumba de Pacal. Ficamos duas horas por lá. Pouco, muito pouco!!! 

 

 

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MEXICO CENTRAL - GUANAJUATO, MORELIA E PATZCUARO

 

Para retornar do sul, optei por fazer por aéreo, porque meu tempo estava curto e eu ainda tinha Guanajuato e San Miguel do Allende antes de chegar à tradicional Festa dos mortos em Morelia e Patzcuaro. De San Cristobal de las Casas peguei um ônibus até Tuxtla de Guitierrez e de lá um vôo pela Aeroméxico para a capital, do aeroporto peguei um taxi para a rodoviária e seguindo o conselho da minha companheira fantástica de vôo, comprei minha passagem pela ETN e super confortavelmente cheguei à Guanajuato, a cidade mais fantástica do México!

 

O centro histórico de Guanajuato possui um característico sabor europeu, com centenares de becos de pedras que sobem e descem a ladeira. As praças arborizadas estão cheias de cafés ao ar livre, museus, teatros, mercados e monumentos históricos. Os edifícios da cidade são um excelente exemplo da arquitetura colonial de estilo neoclássico e barroco. Uma rede de túneis subterrâneos corre debaixo da cidade para ajudar a controlar o fluxo do tráfego.

 

Conhecida como o berço da Independência do México, esta cidade é uma importante parada ao longo da Rota da Independência, que também passa pela Dolores Hidalgo e San Miguel de Allende. Percorre a Alhóndiga de Granaditas, um edifício e monumento histórico localizado no centro da cidade, e o lugar onde aconteceu a primeira grande vitória sobre os espanhóis em 1810. É uma cidade de lendas e lugares lendários. Um dos mais conhecidos é o famoso "Callejón del Beso" (Beco do Beijo), um lugar muito estreito onde os casais podem se beijar desde varandas opostas. Não podemos deixar de participar de uma "callejoneada", ou serenata a pé, dirigida por músicos estudantes que, acompanhados por violões, oferecem serenata aos presentes e contam histórias locais.

 

Anualmente, a cidade alberga o Festival Internacional Cervantino (eu cheguei com uma semana de traso), um evento de artes cênicas nomeado em honra a Miguel de Cervantes Saavedra, autor de Dom Quixote de la Mancha. Há menção a Cervantes em cada esquina, com muitos monumentos e um museu fantástico!!! A cidade abriga também a a casa do famoso muralista  Diego Rivera, nascido neste mesmo estado, que foi convertida num excelente museu.  Gostei tanto da cidade que abri mão de San Miguel do Allende para ficar dois dias por lá.

 

 

 

 

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De Guanajuato até Morélia é bem rápido, acho que três horas, não lembro bem. Cheguei no final da tarde, coloquei as malas no hotel e já fui dar uma volta na praça central e o clima Noche de los muertos já pairava no ar, com as crianças fantasiadas, lindas mulheres vestidas de Catrina, decoração fantástica, velas, "oferendas" e a flor típica em todos os lugares, chamada de la cempasúchil, que eu já era apaixonada e chamamos aqui de cravo francês.

 

E como funciona o Dia dos Mortos? Eu segui o rito turistão: fechei um tour com uma agência local, a Morelianas, e segui para visita aos cemitérios locais em  Pátzcuaro e Tzintzuntzan e o mais tradicional de todos, na Isla de  Janitzio . É muito interessante, como as pessoas encaram a "comemoração". Que na verdade é uma celebração da vida, a saudade dos que já foram, para que sejam relembrados e não renegados à terra dos esquecidos. A festa está dividida em duas etapas, entre o 31 de outubro e 1º de novembro, os mexicanos celebram as almas que morreram quando crianças, no Día de los Angelitos. Já o dia seguinte é dedicado a quem foi para o outro mundo durante a vida adulta. É uma festa linda de se ver.

De origem indígena, o Dia de Finados mexicano comemora as vidas dos ancestrais, que nessa época voltam do outro mundo para visitar os vivos. Os povos indígenas tinham cerca de um mês inteiro dedicado aos mortos: o nono do calendário asteca, equivalente ao nosso agosto. Quando os espanhóis chegaram naquelas terras, se assustaram com esses costumes e logo trataram de cristianizar a festa, que teve a data alterada para coincidir com o Dia de Finados católico. As famílias preparam verdadeiros banquetes, as pessoas se enfeitam e as crianças se divertem em suas visitas aos mortos, nos cemitérios!

 

Cheguei ao hotel às cinco da manhã, realizadíssima por ter conseguido fazer a viagem que estava em meus planos há tanto tempo.

 

 

 

 

 

 

 

Morelia é a capital do Estado mexicano de Michoacán e tem a mais linda arquitetura colonial dentre todas as cidades que conheci. A catedral começou a ser construída em 1660 e foi concluída em 1744 com a fachada em estilo barroco e interior neoclássico. É simplesmente fantástica, principalmente a iluminação noturna. A rua principal fica fechada aos domingos para lazer e no fim dela há um gigantesco aqueduto. Agora, o maior espetáculo da cidade é o Santuário de Guadalupe, com seu interior magnificamente decorado pelo artesão Joaquín Orta, cheio de adornos florais, coloridos em tons de rosa e lilás. Li em um guia que parece um templo hindu. É verdade.

 

Havia comprado minha passagem de retorno à Cidade do México para a manhã do dia 03/11 e acidentalmente peguei um taxi na porta do hotel que descobri que havia sido chamado para outra pessoa. Conversando com o taxista, falei sobre o fato de não ter ido à Patzcuaro durante o dia e que tinha planejado os horários do dia e tal e seguimos para a rodoviária, chegando lá ele sugeriu que eu trocasse minha passagem e me cobrou 400 pesos (aproximadamente R$ 100,00) para me levar a Patzcuaro e rodar comigo pelas redondezas, ao sítio arquelógico e me "devolver" na rodoviária no fm da tarde. Consegui trocar e lá fomos nós. Coisas do destino.  E assim, conheci Patzcuaro (e mais um muralista Juan O'Gorman), Quiroga e ainda consegui comprar as Catrinas por 1/4 do preço no pueblo dos artesãos que vendem para as grandes cidades.

 

 

 

 

 

 

 

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De volta à Cidade do México para um dia e meio de sol! Aproveitei a manhã no Castillo de Chapultepec e voltei ao Centro para fazer a visita guiada ao Palácio de Belas Artes

(que para minha sorte também estava apresentando uma exposição fantástica de grandes fotógrafos), subir ao topo da Torre Latino Americana,  andar a pé pelo Paseo Francisco Madero e passar a tarde toda nos murais de Siqueiros e Orozco no antigo  Colégio Sao Idelfonso, hoje Museu de Arte e correndo as ruínas do Templo Mayor. Fechei o último dia com mais Rivera e uma corrida ao Museus Soumaya.

 

HOSPEDAGEM:

Cidade do México: Hotel del Principado - Atendimento espetacular, apesar da estrutura merecer uma boa reforma. Bem localizado, atrás do Shopping Reforma 222 e rua do Museu de Cera. Excelente custo x benefício.

Oaxaca: Hotel Trebol - O melhor hotel de toda viagem pela localização, pelo conforto e atenção do staff. O preço para qualidade me surpreendeu, mas creio que foi uma promoção conseguida pelo Hoteis.com, uma vez que a tabela de preços da recepção estava o dobro.

San Cristobal de las Casas:  Hotel Casa Madero - Praticamente um pulgueiro bem localizado. Cama barulhenta, cheiro de mofo, chuveiro tipo splash que molhava até para fora da cortina. Mas foi tipo preço de hostel para um quarto privado. Então tá bom, né? Bolso agradeceu.

Guanajuato:  Hotel San Diego - De cara para o gol! Ao lado do Teatro Juarez. Quarto enorme, confortável. Chuveiro fantástico. Equipe insossa. Doeu no bolso, mas eu merecia depois do sufoco em San Cristobal.

Morelia:  Hotel Casino - Muito bem localizado, praticamente no quintal da Catedral. Quarto pequeno, mas longe do barulho do restaurante do térreo. Bom custo x benefício.

 

RESTAURANTES: Não vão ser dicas brilhantes, porque eu nunca fui muito fã de comida mexicana e lá a coisa piorou.

Oaxaca: El Asador Vasco - Fantástico!!! Ambiente legal, atendimento nota mil e um filé dos deuses. Sentei no varandão e fiquei lá vendo a vida passar.

San Cristobal de las Casas: El Argentino - A melhor carne e salada que comi em toda minha vida! Melhor que na Argentina! 

Guanajuato: Casa Valadez - Tanto para o café da manhã quanto para o almoço é uma excelente opção!

Morelia: Pulcinella - Fettucine al Alfredo. É isso!

De resto, eu só posso dizer que Subway, Burger King e o meu preferido Crepes & Waffles foram a minha salvação!!!

 

 

 

 

E agora, a galeria que sempre é a razão  das minhas viagens: as pessoas, o cotidiano, o photostreet.

 

 

E como canta Diego Torres para Venegas em Sueños: Viva el México, cabron!!!

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