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Marrocos

A decisão pelo Marrocos foi uma desses acidentes da vida, decorrente de uma excelente oferta do destino por milhas, chegando por Marrakech. A princípio íamos em dois, mas logo a notícia se espalhou e a dupla virou praticamente uma excursão  quando mais quatro integrantes pularam no barco. Tinha tudo para dar errado: idades diferentes, nem todos conhecidos diretos, bolsos com capacidades diferentes e temperamentos muito distintos. Mas uma força invencível atribuída  ao rumo e aos diversos acontecimentos da vida, também conhecida como sorte, deu o ar da graça e fez com que tudo desse certo, mas tão certo, que até nos perrengues nos divertimos!

O Marrocos está ali no norte da África e é uma monarquia governada por um rei alauita, dinastia que está no poder desde 1666. Em 1912, Marrocos foi dividido em protetorados, tendo a grande maioria do território sob domínio francês e uma parte bem pequena aos espanhóis, com uma zona internacional em Tânger. Recuperou a sua independência em 1956. Portanto, apesar do idioma oficial ser o árabe e o francês, muito se ouve de espanhol e na zona turística, o inglês. Ou seja, nos viramos super bem e  ficamos somente no  "shukraan" (obrigada) em árabe.

O Roteiro

Fizemos as escolhas partindo da premissa de conhecer as quatro grandes cidades imperiais, ou seja, aquelas que foram capitais das antigas dinastias reinantes. Ao que parece, cada rei queria deixar seu nome na história e então resolvia criar suas maravilhas em cidade que não havia sido escolhida por nenhum dos outros.

As cidades de Essaouira e Chefchouen foram escolhidadas pela proximidade das cidades imperiais . Tanger, veio de brinde na passagem entre uma e outra, meio que relâmpago, só para dar uma olhada no estreito de Gibraltar. Merzouga foi nossa base para o tour no deserto do Saara e Casablanca foi nosso ponto de partida para a segunda etapa das férias: o Egito, que é assunto para um outro post.

Foram treze dias fantásticos, com uma vivência cultural inédita, que superou demasiadamente minhas expectativas. O auge que seria o tour no deserto, acabou ficando como coadjuvante nessa maravilhosa terra barulhenta, de cores vibrantes e encantadora arquitetura.                                      

MARRAKECH

 

É conhecida como Cidade Vermelha e consegue ficar ainda mais vibrante quando aquecida pela luz do fim da tarde. Foi, definitivamente,  a minha cidade preferida com suas casas pintadas em diferentes tons de vermelho, sua charmosa e gigante muralha, erguida em 1062,  e aquelas laranjeiras abarrotadas de frutos pelas ruas.

Eu li muitos blogs  sobre o quanto é insuportável a insistência dos comerciantes, artistas de rua e prestadores de serviço, que praticamente é um “ataque” aos turistas. Um blog em particular praticamente dizia nas entrelinhas: "não vá" (mas essa opinião eu já tinha desconsiderado porque achei o cara um fresco). É chato mesmo, mas tiramos de letra, nos esquivando e nos divertindo com algo que é cultural. Aprendemos a pechinchar e o mais interessante, a adorar esse esporte. Muitas vezes o “não” tem que ser mais duro, mas nada que não seja administrável. Uma situação muito engraçada foi de um cara insistindo para comermos na barraca dele, falei que não iria comer (na verdade, só um dos meninos comeria mesmo) e acabamos sentando em outra barraca, o cara ficou tipo uns dez metros de distância da gente gritando: "mentira, mentira". Rolamos de rir!

Os marroquinos odeiam ser fotografados e eu apesar de amar esse tipo de foto, sempre gostei de respeitar os limites. Os artistas de rua cobram para ser fotografados e nesse caso eu prefiro não fotografar, porque perde a graça. "Photostreetear" também é um esporte, onde o clique vira uma foto ao flagrar uma cena não posada. Merecem sim as gorjetas, o problema é que acaba não sendo voluntário: cobram valores altos e na maioria das vezes de forma grosseira. Os caras das cobras e dos macacos deviam ser presos pela forma como tratam os animais e não levaram um dirham meu.

Chegamos na parte da tarde e fomos atrás do tour para Essaouira que estava já na programação do segundo dia. Poderíamos ter fechado no riad, mas como nos trocaram de hospedagem na cara de pau, preferimos não dar essa ousadia. Achamos uma agência próxima à praça e fechamos por cinco euros a menos do que havíamos colocado no orçamento. A primeira dica esta aí: não fechar os tours no Brasil, ainda que aquela neura de sair com tudo pronto bata firme, não feche, pois os passeios são muito negociáveis.

 

Quanto à hospedadem, optamos pelo riad, que é o nome dado para os casarões antigos que foram transformados em pousadas. Ficam dentro da Medina, que por sua vez são os centros comerciais dentro da cidade antiga murada. Os hotéis, estão fora da cidade murada, na cidade nova ou como chamam por lá: nouve ville. Ficamos hospedados no Riad Lakhdar, mas tínhamos reservado o Riad Riva com transfer do aeroporto, aí numa treta que eles tem entre si, o motorista nos levou para outro lugar. Questionamos que o lugar era errado, mas o carinha veio com um papo que era uma extensão do mesmo hotel (extensão com quadras de distância, nunca vi!!) ou seja, vendem uma coisa e entregam outra e ficamos com a impressão que nos passaram a perna nos colocando em um local inferior, mas não foi ruim: muito bem localizado, relativamente limpo e com água abundante e quente nos banheiros. O café da manhã era básico, mas bom (pão, manteiga, panquecas, geleia, café e suco). Tivemos mais dois problemas: um que foi quase o despejo faltando uma diária ainda e o outro foi a explosão de um boiller no meio da madrugada. Acordei apavorada pensando em atentado terrorista (uma idiotice sem tamanho, já que me senti mais segura no Marrocos que em qualquer lugar do Rio de Janeiro). De qualquer forma, pela relação custo x benefício, eu recomendo o local.

Ficamos três dias em Marrakech e optamos por uma passagem relâmpago pelas compras, pois se parássemos pra negociar tudo que gostaríamos de comprar, ficaríamos três dias nessa vibe. Os árabes são mesmo negociantes natos e você consegue reduzir os preços em até 50%. Essa sábia decisão nos deu tempo suficiente para curtir os locais com aquela calma fotográfica que eu mereço.

O que visitamos:

Praça Jemaa El-Fna - Fechamos a noite do dia da chegada na famosa praça Jemaa El-Fna, que é, sem dúvida, o cartão postal do Marrocos. Jantamos o famoso tajine e ainda comemos caracóis em uma das bancas (chamam de escargot, mas não parece nada com o que provei na França). Voltamos à praça algumas vezes, pois era colada ao nosso riad e é um palco gigante a céu aberto.

Em 2008 foi incluída pela UNESCO como patrimônio mundial e seu nome pode ser traduzido como “Assembléia dos mortos”, pois era o local onde os criminosos eram executados e suas cabeças penduradas para servir de exemplo. As barracas de comida somente são montadas à noite, o que deve ser uma trabalheira para os comerciantes. Durante o dia, o domínio é dos saltimbancos, domadores de serpentes, engolidores de faca, tatuadores de henna, em suma o ponto de encontro da malandragem. Tem uns caras que ficam vestidos de vermelho com um chapéu engraçado com pom-pons e canecas, acredite: os caras vendem água!!!! Hahahaha... 

Mesquita de la Kotubia - Não é permitida a entrada para não muçulmanos, mas por fora já nos encanta com seu minarete de 69 metros de altura. O  nome deriva do nome árabe que significa “bibliotecário”, pois na área havia o comércio grande de manuscritos. Foi construída no estilo almoáda tradicional. Todas as mesquitas têm um minarete em anexo. Tradicionalmente, do topo os fiéis eram chamados para a oração, por isso a necessidade de altura, para ecoar o som. Agora, são equipadas de alto falantes. No fim de tarde, ao redor, ficam crianças jogando bola, casais namorando, crianças brincando e é um excelente lugar para observar o cotidiano local.

As chamadas (em árabe, adhan)  são fascinantes e acontecem cinco vezes ao dia, sendo a primeira antes do nascer do sol. 

Allahu Akbar                                                      Deus é o Maior !

Allahu Akbar                                                      Deus é o Maior !

Allahu Akbar                                                      Deus é o Maior !

Allahu Akbar                                                      Deus é o Maior !

Ach hadu an la ilaha ill- Allah                        Testemunho de que não há outra divindade além de Deus

Ach hadu an la ilaha ill- Allah                        Testemunho de que não há outra divindade além de Deus

Ach hadu an la ilaha ill- Allah                        Testemunho de que não há outra divindade além de Deus

Ach hadu an la ilaha ill- Allah                        Testemunho de que não há outra divindade além de Deus

Haiyá alas-salat                                                 Vinde para a Oração

Haiyá alas-salat                                                 Vinde para a Oração

Haiyá alas-salat                                                 Vinde para a Oração

Allahu Akbar                                                      Deus é o Maior !

Allahu Akbar                                                      Deus é o Maior !

 

Museu de Marrakech -  O museu está instalado no Palácio Mnebbi e foi fundado em 1990. Vale a visita ao lindo pátio, mas a exposição permanente não encanta. 

Palácio de Bahia -  O palácio que foi iniciado pelo grão vizir  Si Moussa em 1860 e é ricamente decorado, mas foi acabado entre 1894 e 1900 pelo ex escravo que se tornou gran vizir Abu Bou Ahmed. Em 1908, o belicoso paxá Glaoui considerou o palácio um lugar adequado para entreter convidados franceses que ficaram  tão impressionados, que o expulsaram em 1911 e instalaram nele o quartel general do protetorado. Glaoui se fu!

Apesar de ser somente parcialmente aberto ao público, a parte do harém sem mobília é aberta a visitação. O harém obrigava 4 esposas e 24 concubinas. O cara é meu herói, porque aguentar 28 mulheres não é para os fracos!

Palácio El Badi - Foi meu preferido. Tanto que voltei para fotografar porque estava nublado na primeira visita. O palácio originalmente era adornado com turquesa e cristal, mas foi saqueado 75 anos depois da construção, no século 16. Mas os grandes pátios dão uma ideia do que foi no passado, com quatro jardins de larajeiras e espelhos d'água. Há uma torre com vista panorâmica da cidade, exposições temporárias de arte e a exposição permanente do púlpito de oração da kotubia, com detalhes em macheteria, que data do século XII.

Tumbas Saadianas - O sultão saadiano Ahmed al-Mansoured-Dahbi construiu seu próprio túmulo em mármore italiano e folheou com ouro a madeira do teto para fazer a Câmara  dos 12 pilares, um mausoléu pra lá de fantástico.  Há também as tumbas dos principes, esposas e conselheiros. Anos depois de sua morte, o sultão alauita Moulay Ismail (o mesmo do grandioso túmulo de Meknes) ergueu muralhas ao redor das tumbas, com apenas uma passagem pequena no meio da medina, para manter o seu antecessor fora do coração do povo. As tumbas foram negligenciadas até 1917, quando fotografias aéreas as revelaram.

Bab Agnaou - É o triunfal portão de entrada do casbá real e fica bem pertinho das Tumbas Saadianas. 

Medina - Começamos a percorrer a medina e seus souks, a partir da Praça. No meio do caminho, encontramos um marroquino que nos indicou visitar os curtumes e nos deu a direção, fomos nos embrenhando nas "quebradas" e foi muito interessante! Foi nesse caminho que sentimos Marrakech como é para os moradores locais. Nos perdemos, nos achamos. Visitamos o curtume no meio do caminho e achamos o outro lado da muralha. Foi só nessa passagem que compramos algumas lembrancinhas e tal. 

Jardim Majorelle - Yves Saint Laurent e Pierre Bergé compraram o casarão azul e o jardim para preservar a ideia de seu dono original, o pintor Jaques Majorelle em 1964. O jardim botânico é cultivado desde 1924 e hoje tem mais de 400 espécies de todo o mundo. O museu no seu interior é dedicado a arte berber. Fica na nouve ville e a visita vale muito a pena. Aquele tom de azul ficou colado na minha memória para sempre.

Jardins de Menara - Há uma lenda local que um sultão seduzia seus convidados durante jantares e depois os afogava no grande lago. Atualmente é um local de lazer dos visitantes e moradores que fazem piqueniques entre as lindas oliveiras, andam de patins, conversam e namoram  à beira do lago. Assim como os arredores da kotubia, é um lugar para observar a vida dos marroquinos. Eu e um dos meninos fomos dar uma volta no lago, carregando a máquina no pescoço e uma garotada nos pediu para fazer uma foto (até fiquei surpresa). Quando de repente, nos vimos rodeados por uns vinte adolescentes barulhentos posando... foi fantástico: trocamos whatsapp, facebook e depois mandei as fotos!!! 

Infelizmente a medrassa estava fechada e foi onde eu tive um problema com a fotografia. Um cara fez um escândalo comigo na rua porque entendeu que eu o tinha fotografado, fiz a foto somente de um portão, o idiota nem apareceu e tive que mostrar a foto. A situação foi bem chata. Depois disso eu fiquei muito mais travada na fotografia de rua.

Pela cidade murada nos movimentamos a pé! E muito! Pelo contador de passos do iPhone, a média era de 12 quilômetros por dia. Para ir a nouve ville, como éramos seis, usávamos os grand taxi (o equivalente à nossa dobló). Acabamos não fazendo o passeio de charrete, porque estavam cobrando 600 Dihans (aproximadamente 60 euros) e mesmo pechinchando não achamos um programa imperdível. 

Não contratamos guia em Marrakech, usamos os mapas baixados off line do Google e optamos por nos perder mesmo. Não é difícil.  Eu fui muito pré neurada por conta dos blogs que li. O importante é não se deixar aborrecer, porque afinal o que são viagens de férias, que não um meio de viver coisas diferentes,  conhecer novas culturas, novos cheiros, sabores e  novos movimentos...

Experimentamos a comida marroquina em um restaurante muito bonitinho na Praça Jemaa El-Fna, chamado Zeitoun Cafe e no Kosybar (servem cerveja), na Place de Ferblantiers.  No terceiro dia já estávamos cansados do tahine, seja de frango ou de kafta ou de qualquer outra coisa e apelamos para o Pizza Hut, KFC, Burguer King e até para o McDonald's e compramos nossos beliscos no Carrefour.

ESSAOUIRA

No segundo dia fizemos um bate e volta para Essaouira, cidade costeira, distante 200 km de Marrakech. No caminho de ida paramos em uma cooperativa de mulheres que trabalham com o argan, extraindo o óleo dos cosméticos fantásticos. Sucumbi ao consumismo e comprei sabonetes e creme para cabelo (nada baratos). Nas proximidades, paramos em uma das árvores com cabras. Ao que parece, elas comem o fruto e o interior que é um tipo de amêndoa de onde se extrai o óleo, sai nas fezes. Apesar de ter visto com meus próprios olhos, nada me tira da cabeça que elas são colocadas lá pelos caras que as criam. É muito surreal ver as cabras como pássaros.

 

Graças a Deus, pagamos pelo tour, mas na verdade foi só um cara que nos levou e trouxe de Essaouira. Assim, ficamos à vontade para bater perna pelo Porto, pela Medina e até estivemos no souk (mercado que fica dentro da medina). O preço valeu a pena, já que a van nos pegou na porta do riad e na volta ainda nos deixou na Nouve Ville para jantar. Se fossemos de ônibus de linha, a economia seria de 4 euros/pessoa, o que pagou o comodismo. 

Em 1912, depois dos franceses terem tomado o Marrocos como um protetorado, reverteram o nome da cidade para Mogador e desviaram o comércio para Casablanca, Tanger e Agadir. Foi apenas com a independência, em 1956, que esse lugarzinho gostoso e pacato voltou a se chamar Essaouira. Depois que Orson Welles filmou Otelo na cidade, da rápida visita de Jimi Hendrix e da escolha de Essaouira como retiro por hippies, a cidade passou a receber um fluxo constante de turistas. Recentemente foi cenário de Game of Thrones, como Astapor, a casa dos Imaculados (os soldados eunucos de Daenerys), um ponto de parada para os navios que partem de Qarth as Cidades Livres e Westeros.

Andamos bastantes pela medina, que é a mais tranquila de todas as cidades que passamos, com muito pouco assédio dos comerciantes e almoçamos calmamente dentro das muralhas. O Porto, o Skala e a vista para Ile fazem da cidade uma excelente visita fotográfica.

Medina – foi tombada como Patrimônio da Humanidade em 2001. O bem preservado projeto fortificado do fim do século 18 é um excelente exemplo de arquitetura militar europeia no norte da África. Para o visitante, seu clima tranquilo com ruas sinuosas, lojas coloridas, casas caiadas e pesadas portas douradas de madeira faz dela um ótimo lugar para flanar (usando aqui um termo muito parisiense). 

As dramáticas muralhas fustigadas pelas ondas que cercam a medina são um ótimo lugar para uma vista de cima do labirinto de ruas. O local de mais fácil acesso às muralhas é o Skala de la Ville, o impressionante bastião marítimo construído ao longo dos penhascos. Uma coleção de canhões europeus dos séculos 18 e 19 fica pelo caminho e você se deleitará com belas vistas do mar e ficamos imaginando que espetáculo deve ser o pôr do sol (voltamos antes). 

 

Skala Du Port – Situado no porto, o Skala oferece mais canhões e vistas pitorescas do porto pesqueiro e da Ile de Mogador. Ao olhar pra trás, para a medina murada,  através de uma cortina de gaivotas, você terá a mesma vista evocativa que é usada em quase todos os cartões postais.  O lugar é agitado: vai e vem de barcos, redes sendo consertadas e o pescado do dia sendo desembarcado, é também o local onde há fabricação de embarcações tradicionais de madeira. Os construtuores fornecem barcos pesqueiros para toda a costa marroquina e até a França, já que suas linhas são muito apreciadas. 

 

Ile de Mogador - Próxima a costa, a Ile de Mogador tem algumas construções interessantes. Na verdade, ela é formada de duas ilhas e várias ilhotas -  célebres como Iles Purpuraires (Ilhas de Púrpura) na Antiguidade. Essas ilhas desabitadas são um santuário para falcões-de-eleonora, que também podem ser vistos com binóculos da praia de Essaouira. 

É possível fazer um passeio até as ilhas fora da estação de reprodução,  mas ainda assim é necessária  uma permissão da capitania dos portos, mas nem tentamos. 

 

 

TOUR DO DESERTO

Economizamos 90 euros em contratar o tour diretamente em Marrakech e essa eu devo ao integrante do grupo que quebrou toda minha neura de viajar com tudo organizado e fechado nos últimos detalhes. Fechamos na agência de um hotel na Avenida Mohammed V. O Simón que nos atendeu foi ótimo, explicando todos os detalhes. No dia seguinte, às sete uma van nos pegou no riad e nos levou para uma praça onde fomos redistribuídos conforme o tour escolhido: o nosso foi de três dias e duas noites, uma delas no acampamento no deserto. Junto conosco havia um casal de venezuelanos que moravam em Madrid e uma família de Singapura.

No primeiro dia percorremos 310 Km, cortando as montanhas do Alto Atlas, passando por povoados berberes e parando em Tizi-N'Tichka para umas fotos de cair o queixo. No meio do caminho paramos por aproximadamente duas horas para visitar Ait Ben Haddou, uma cidade fortificada que foi cenário de vários filmes como Lawrence da Arábia, A múmia, Jóia do Nilo e Gladiador, declarada patrimônio da humanidade pela Unesco em 1986. Almoçamos por lá e apesar daquela venda casada de tours, foi bem interessante pelo preço e pela sabor, mas foi o tajine de sempre. Nesse tour, somente o almoço foi pago à parte, o café e o jantar estavam inclusos. 

Paramos novamente em Ouarzazate, nos estúdios de cinema. A cidade é uma graça, mas a parte dos estúdios, por mim, poderia passar batida. A partir dessa cidade, a estrada passa ser chamada de estrada dos mil kasbahs, pela quantidade de construções do tipo, que são casas com quatro torres. Paramos nas lojinhas do Vale das Rosas, sem parar nas plantações, pois o período da colheita é maio. Nos povoados ao redor, há muitas menções à atividade, inclusive nos táxis que são cor de rosa. No início da noite chegamos ao Vale de Dades, onde pernoitamos no Hostel La Kasbah de la Vallee, incluso no pacote do tour. Ficamos os seis em um único quarto, relativamente limpo, com chuveiro quente. Esse foi o dia que mais senti frio com a temperatura em torno de dois graus. Ainda assim, bem suportáveis com a calça e blusa segunda pele que levei (já tinha comprado da Lupo desde a viagem do Atacama). O jantar foi bem simples, mas a sopa de grão de bico da entrada estava muito boa. O café da manhã na manhã seguinte também simples, mas tinha aquela panqueca maravilhosa que comemos em todos os riads que ficamos. 

Para ser bem direta, eu achei uma bagatela pagar 70 euros por mais de 600 Km de viagem, duas noites de hospedagem, sendo uma delas no acampamento (e o trecho com os camelos), café da manhã e jantar, a visita a Ait Ben Haddou. Com tudo isso eu já não esperava mesmo um cinco estrelas e agradeci todos os momentos pela sorte de ter ido com o Mohammed, o melhor motorista do mundo, mega cuidadoso e que apesar de falar pouquíssimo em espanhol apontava os locais maneiros e fez algumas boas paradas fotográficas.

No segundo dia, saímos do Dades e seguimos para as Gargantas de Todra, onde caminhamos por cerca de uma hora pelos paredões e pelas plantações locais. Saímos em direção a cidade de Tineghir, rodeada por um vale de palmeiras e aldeias de adobe. Almoçamos na estrada em um restaurante bem bom, onde encarei um espaguete (cansada do tajine) e no fim da tarde chegamos às Dunas de Erg Chebbi, onde de camelos seguimos para o acampamento, que também não é cinco estrelas, mas é facilmente suportável. Encaramos a falta de banheiro como uma experiência divertida e usamos as moitas. Um salva de palmas para quem inventou o lenço umedecido.

Queria muito ter feito umas fotos noturnas, mas estava nublado. Fui dormir cedo e levantei antes do sol para fotografar sua chegada, que mesmo entre as nuvens chegou como um astro! Fui a única a levantar e subir a duna naquele silêncio para esperar a luz, que foi algo indescritível em palavras, vou deixar por imagens. Retornamos de jipe, que paguei à parte, porque minha bunda estava mega dolorida das duas horas da tarde anterior andando de camelo. Tomamos café no hostel que deixamos as malas e ali mesmo contratamos um grand taxi para nos levar a Fez, a cidade imperial mais antiga.

FEZ

Chegar à Fez, partindo de Merzouga, foi encontrar boa parte da diversidade da paisagem marroquina nos 460 Km de estrada, partindo das dunas alaranjadas do deserto pela Rodovia N13, serpenteando no meio do caminho por montanhas nevadas, passando por várias cidadezinhas fantásticas,  sempre pontuadas de minaretes no caminho (confesso que fiquei apaixonadíssima pelas mesquitas). Tivemos um pouco de falta de sorte com o motorista era sisudo e não tivemos muita abertura para pedir paradas fotográficas, além do cara ter passado as sete horas da viagem falando no celular. Paramos para almoçar em Midelt, um povoado aos pés das montanhas como algodão doce. Parada rapidinha que só deu para dar uma volta na pracinha e olhar ao fundo o cemitério berbere, onde os mortos são enterrados de pé, com uma pedra marcando a direção da cabeça. Passamos sem parar por Ifrane, a suíça marroquina e Azrou.

 

Ao invés dos tons avermelhados de Marrakech, Fez se apresenta em tons de bege, entramos pela parte nova da cidade e cortamos a avenida principal até chegar à porta da medina, onde nosso taxista ligou para o riad e o administrador foi nos buscar. Amém!!! Porque achar o riad no meio da medina, nesse primeiro momento, seria achar uma agulha no palheiro. Depois que nos acomodamos, descobrimos que ficamos super bem localizados, no início da medina, de fácil acesso e sem riscos de se perder. O Riad Mansoura foi a grande surpresa da viagem: lindo, com um café da manhã digno de reis, limpo, um staff maravilhoso e um custo x benefício fenomenal! Ficamos duas noites e subestimamos o tempo que seria necessário para mergulhar no frenesi daquela cidade! Ainda mais que tínhamos colocado no planejamento um bate e volta até Meknes, uma das cidades imperiais. Em suma, foi corrido e merecia mais um dia!

Fez foi capital do Marrocos até a chegada dos franceses e tem a maior medina do mundo, onde vivem mais de 350 mil pessoas, há quem diga que há mais de 10 mil ruelas. É algo indescritível em palavras ou em fotos. No nosso planejamento tínhamos no dia após a chegada, um bate e volta à Meknes e no último um tour pela medina e pela cidade, pegando a estrada novamente no fim da tarde, por isso optamos por um guia, que conseguimos pela recepção do riad, mas que foi um "tiro no pé", o cara era um mala, com uma má vontade infernal e na primeira hora já queríamos nos livrar dele para andar sozinhos, ou melhor, para nos perder sozinhos!!! Mas pelos 5 euros por cabeça, pelo menos ele nos levou aos pontos principais.

Mesquita e Universidade de Kairouine - É considerada a universidade mais antiga do mundo, fundada como uma madrassa em 859 por Fatima al-Fihri, filha de um comerciante, cuja família xiita  que havia emigrado de Kaiouran (daí o nome da mesquita) na Tunísia. Apesar de ser gigante, sem o guia passaríamos batidos pela entrada, pois está cercadas pelas casinhas da medina, que na verdade são praticamente todas iguais. Nosso guia mala, nos contou que a arquitetura das moradias da medina, tinham como premissa que não deveria haver ostentação externa, prezando pela simplicidade  porque todos no mundo são iguais, assim cabendo os adornos apenas no interior. Lembrei de uma frase que minha avó sempre falava ao malhar a vida alheia: "por fora, bela viola, por dentro pão bolorento". Só que em Fez funcionava ao inverso!!! A Universidade não é aberta aos não muçulmanos, mas rola uma espiadinha da entrada.

Medersa Bou Inania - Ficava bem pertinha do no nosso riad e pela manhã não estava aberta aos não muçulmanos, mas o simpático vendedor da barraquinha de suco de laranja nos informou para voltar depois do meio dia e conseguimos entrar e ficamos lá meia hora tentando levantar o queixo depois de olhar todos aqueles entalhes no gesso e na madeira.

Chaouwara Tanneries - São os famosos curtumes, local onde se trata o couro da mesma forma que se tratava lá no passado, com o uso de bosta de pombo para tratamento inicial e tingimentos naturais como o índigo, o açafrão, kajal e etc. Em muitos blogs li sobre como o cheiro é insuportável. Não achei tão ruim assim, tanto que nem usei o ramo de hortelã oferecido ao subir nos terraços, onde se tem acesso através das lojas. É claro que no final da visita rola aquela tentativa de venda, o exercício da pechincha, mas comigo ficaram no vácuo.

Royal Palace - Em cada uma das cidades imperiais há um Palácio Real, ao que parece, o rei faz um rodízio e praticamente vive nos quatro. Mas para os moradores, o palácio de Fez é o preferido, até mesmo porque o rei Mohammed VI é casado com Lalla Salma, natural de Fez. Foi o único palácio que conseguimos ver além de muralhas, pois as portas estão à mostra e são obras de arte. O local estava cercado por grades, mas pedi autorização ao guarda real para a fotografar e ele deu Ok.

Tumbas de Merenid - Antes de pegarmos a estrada para a próxima cidade do roteiro, paramos no alto de uma colina de onde conseguimos ver toda a gigantesca extensão da medina de Fez. Nesse mirante encontram-se as Tumbas de Merenid, que eram uma dinastia que ali reinaram entre o século XIII e XV. Depois fomos ao outro lado, onde do mirante, além da cidade, visualizamos o cemitério, que encobre toda a colina. Fizemos essa visita com o mesmo carro que contratamos para nos levar para a Chefchouen. 

MÉKNES, VOLUBILIS E MOULAY IDRISS

Fomos para Méknes de trem a partir da graciosa estação de Fez, em uma viagem confortável de quarenta minutos. Na estação, pegamos um grand taxi para nos levar a Volubilis, distante aproximadamente 35 Km, que nos esperou e depois nos levou a  cidade de Moulay Idriss a 5 Km, retornando à Meknes em seguida. 

Fiquei encantada com Volubilis. Foi uma admirável surpresa! Escavações indicam que a área foi colonizada por mercadores cartaginenses nos anos 3 a.C, mas anexada ao Império Romano em 40 d.C. e que determinava em suas possessões na África o que devia ser plantado. Assim, houve um desmatamento enorme da região para o plantio de trigo. As construções mais impressionantes datam dos século 2 e 3 a.C., incluindo o arco triunfal, a basílica, o capitólio e os banhos. Com a resistência dos berberes, por volta dos anos 280 d.C, os romanos abandonaram de vez Volubilis. No entanto, a população de gregos, berberes, judeus e sírios continuaram a habitar a região até o século XVIII, quando seu mármore foi pilhado para a construção do palácio de Moulay Ismail em Meknes e suas construções por fim foram derrubadas no terremoto  em 1755.

Moulay Idriss é uma cidade branquinha que envolve uma grande colina. Ela guarda o fantástico mausóleu do bisneto do profeta Maomé, fundador da primeira dinastia marroquina e o santo mais venerado do país. Seu túmulo fica no coração da cidade e em agosto, recebe a maior festa religiosa do Marrocos, a moussem. Do alto da colina conseguimos ver o túmulo, mas a entrada não é permitida a não muçulmanos. Nesse lugar, tivemos mais um exemplo da perturbação com os turistas: um carinha colou conosco para nos levar ao alto da colina, o que era realmente necessário no meio daquelas vielas, o problema é que ficou combinado que o pagamento seria um valor voluntário e no final a criatura queria nos dar uma garfada bonita! Eu me recusei a pagar, Helen ficou com pena e deu mais alguns dirhans, mas ainda assim ele queria mais. A paciência terminou e deixamos o mala falando sozinho, mas juro que fiquei com medo dele cuspir na nossa cara (porque numa briga de trânsito, vimos dois caras numa discussão que acabou em cusparada).

Almoçamos com calma e fomos bater perna na mais simples das capitais imperiais, onde o sultão Moulay Ismail, que deu à cidade 25Km de muralhas com portões monumentais e um enorme complexo palaciano, que nunca foi finalizado. Rodemos uma boa parte dessa muralha e terminamos a caminhada no grande lago rodeado de rochas, alimentado por canais de irrigação, que serviu de reservatório para os jardins do sultão, chama-se Lago Agdal e é um ponto de encontro da garotada. Na medina visitamos a Medersa Bou Inania (mesmo nome da de Fez, mas infinitamente mais mal cuidada), a Praça el-Hedim (a Jamma el-Fna de Méknes em propoções bem menores). Nessa praça também há um enorme e lindo portão, o Bab-Al Mansour. 

Nesse dia, o podômetro apontou 17Km. Chegamos na estação de trem já à noite e depois de um banho quentinho, quem quis sair pra comer? Ninguém! Mas como somos pessoas de sorte, a comida do riad era boa!

CHEFCHAOUEN 

A cidade azul no meio das montanhas do Rif nos fez desviar as rotas simples no Marrocos, porque foi a primeira cidade que decidimos que visitaríamos de qualquer jeito. Conseguimos um transporte a partir da indicação do riad em Fez e acabamos ficando com o Adbellah e sua van mega confortável até Rabat. O cara foi simplesmente fantástico, até fantasias de berberes para usarmos para fotografia, ele tinha!

A cidade foi fundada em 1471 por judeus europeus que fugiram da Inquisição Espanhola e mantiveram sua presença até o século 20 quando a maioria se mudou para o novo estado de Israel. Foram os judeus os responsáveis por pintar a cidade, em homenagem a cor que pintava os mantos sagrados do Velho Testamento. Há também uma versão que os judeus simplesmente queriam reproduzir a visão do paraíso em sua nova moradia. Chamava-se originalmente Chaouen (picos), mas em 1975 foi renomeada para Chefchaouen (olhe para os picos).  Um outro fato interessante é que os católicos eram proibidos de entrar na cidade sob pena de morte, até 1920, quando os espanhóis chegaram.

Assim como nas demais cidades, o ponto chave da visita  é se perder nas vielas estreitas da medina que no fim convergem na Plaza Uta al-Hamman e sua kasbah, que atualmente é um museu e galeria de arte. A Grande Mesquita também está localizada na praça e não é aberta aos não muçulmanos. No fim da tarde, seguimos a dica do nosso motorista e subimos à pé a trilha que leva à Mesquita Espanhola para assistir ao pôr do sol e observar a cidade azul se iluminar. Foi uma subida não das mais fáceis na trilha de terra batida, mas que vale cada centímetro. A mesquita foi construída pelos espanhóis em 1920, mas foi abandonada sem nunca ter sido usada.

Ficamos hospedados no Hostel Mauritânia, mas não recomendo nem para meu pior inimigo: quartos sem ventilação, banheiro compartilhado sem água quente (algo super necessário porque em fevereiro pegamos temperaturas próximas ao zero grau à noite), roupa de cama pra lá de encardida. Em suma, uma furada!

Parece que nas redondezas, há uma produção ilegal enorme de marijuana e os caras ficam nas ruas oferecendo para "um beque em um canto escuro". Caímos na besteira de perguntar o preço. Putz, se arrependimento matasse.. os caras ficaram pentelhando o dia todo!!

TANGER

E aí, resolvelmos dar uma passadinha logo ali em Tanger, antes de seguir para Rabat. Em outras palavras, rodamos 400 Km quando rodaríamos 260 Km. Foi praticamente uma visita relâmpago à cidade que é uma das portas de entrada da África, que foi palco de muitas invasões estrangeiras no passado, com sua localização estratégica na entrada do Mar Mediterrâneo. Foi colonizada como base comercial dos gregos e fenícios  e ganhou o nome da deusa Tinge, amante de Hércules. Os romanos também a dominaram, depois foram os bizantinos e depois os árabes. Em 1471 os portugueses assumiram o poder e 200 anos depois deram a cidade aos britânicos como presente de casamento para Carlos II. Em 1679, foi retomada por Moulay Ismail, o mesmo carinha  que criou Meknes como cidade  sua cidade imperial.

Fizemos duas paradas: a primeira na medina, que foi na minha opinião, a mais incômoda em relação à insistência dos comerciantes e daquela galerinha que insiste em ser guia de turismo quando miram um turista e a segunda foi no Cabo Spartel, de onde conseguimos ver os 15 Km do Estreito de Gibraltar. Como o tempo estava claro, conseguimos ver o outro lado. Nesse cabo há um farol bem bonito, que estava fechado à visitação, mas que nosso motorista conseguiu dar um jeito ($$$) de entrarmos. 

Ao sul de Tanger, já na saída em direção à Rabat, paramos pela terceira vez para visitar as Grutas de Hércules, onde supostamente ele descansou depois de separar a Europa da África, criando o Estreito de Gibraltar. Esse foi um dos seus 12 famosos trabalhos. A gruta tem duas aberturas: uma para a terra e outra para o mar, essa última tem uma fenda conhecida como o "mapa da África". 

Paramos para almoçar em Arzila, onde presenciamos um costume local: um morto estava sendo carregado sobre uma cama pelas ruas da cidade até o cemitério. Os carros pararam para a passagem das pessoas (um símbolo fantástico de respeito). Arzila é uma cidade praiana e encaramos uma paella em um restaurante agradável de um tunisiano.

 

 

RABAT

Chegamos à capital do Marrocos e à ultima das quatro cidades imperiais. É linda!!!! E foi a minha segunda preferida!!!! Mas tudo isso só conseguimos ver depois do maior perrengue da viagem. Chegamos  já no finalzinho da tarde e ao chegarmos ao apartamento que tínhamos alugado via Booking, nos deparamos com uma casa abandonada, que mais parecia um terreno baldio. Ainda bem que ainda estávamos com o Abdellah que ligou para o telefone constante no comprovante de reserva, que nos mandou para um outro endereço, ou seja, tinha treta na reserva. Esse outro endereço era um hotel que mais parecia um pulgueiro, com um recepcionista que só falava árabe e nos vimos ferrados. Existem coisas que não tem preço, para outras existe o Mastercard. Já era noite e apesar de fugir completamente do nosso orçamento, nos demos de presente a estadia no Ibis Agdal (pelo valor absurdo de R$ 125,00 a diária/pessoa... caracas, o Marrocos é muito barato!!!), o que foi um oásis se comparado à hospedagem de Chefchaouen e super bem localizado, colado na estação de trem. Eu quase tive um orgasmo ao deitar naquele lençol branquinho de algodão. Mesmo podres de cansados da estrada e do stress, fomos ao Pizza Hut na movimentada Avenida de France.

Com essa passagem por Tanger, ficamos com um dia completo para tentar fazer tudo, pelo menos o tudo turístico. É capital do país desde a independência em 1956, tem avenidas largas, pouco trânsito, limpa e com ares de organização. Com o pouco tempo, abrimos mão da medina. Começamos pegando um taxi do hotel até Chellah, depois fomos a pé pela grande Avenida Yacoub al Mansour até a Tour Hassan, ainda a pé chegamos ao Kasbah les Oudaias, paramos na praia, onde um dos meninos resolveu encarar a água gelada e à tarde fomos para o outro lado da cidade, assistir ao jogo de futsal sub-20 de Angola x Marrocos, já que fomos convidados pelo técnico da seleção angolana que conhecemos na recepção do hotel. Foi muito engraçado: só nós seis torcendo para Angola no estádio! À noite encontramos um bar que servia álcool e tiramos a seca de 12 dias. 

Chellah - Foi uma antiga cidade romana  que foi abandonada em 1154 em favor de Salé. No século 14 o sultão merínida Abou al-Hassan Ali constru V iu uma necrópole sobre o sítio romano, cercada de uma muralha escandalosamente alta, que ainda está de pé ainda que tudo no interior esteja em ruínas. Que lugar fantástico!!! A parte romana contém mais ruínas, mas com um pouco de atenção, observa-se as colunas e parte da arquitetura. A parte islâmica está um pouco mais conservada e próxima ao minarete encontram-se as tumbas do sultão e sua esposa, ornamentadas com azulejos (zellijes). Em todo o complexo, há muitos ninhos de cegonhas.

Tour Hassan - Está bem próxima ao rio Bou Regreg e é o cartão postal de Rabat. Foi o projeto mais ambicioso dos almóadas e seria a segunda maior mesquita do mundo, mas antes da conclusão das mortes, seu idealizador, o sultão Ya'qub al Mansour morreu. O projeto era de um minarete com 60 metros de altura, que ficou em 44 metros. Em 1775 houve um terremoto que derrubou parte construída da mesquita, sobrando apenas as colunas.

Mausoléu de Mohammed V - É uma obra prima da arquitetura alauita e sua construção foi finalizada em 1971 como túmulos do Rei Mohammed V (1909-1961) e seus dois filhos: o Rei Hassan II (1961-1999, pai do atual rei) e o Príncipe Moulay Abdellah. Mohammed V foi o responsável pela independência do Marrocos e talvez esteja aí o motivo de um mausoléu tão espetacular.

Kasbah les Oudaias - É uma fortaleza construída em 1150 para proteção da cidade. Dá para caminhar livremente pelas vielas, até chegar ao grande pátio de onde se vê Salé de um lado e a praia de Rabat do outro. Finalizamos a caminhada na praia, onde não havia ninguém de biquini! As mulheres vão à praia de djellaba (o vestido típico marroquino) e hijab (o véu).

CASABLANCA

Tivemos que colocar Casablanca no roteiro por ser o nosso aeroporto de saída. É a maior cidade marroquina, ainda que não seja a capital. Chegamos com o tempo muito nublado e visitamos a grande jóia da cidade antes e depois da chuva, com o almoço no meio. Para conseguir circular à vontade, alugamos um quarto em um hotel pulgueiro em frente à estação de trem, uma vez que teríamos que pegar o trem para o aeroporto. Decisão muito acertada, pois o aeroporto é longe aproximadamente 40 Km da cidade e o trem pára praticamente dentro do check in.

A grande jóia é a Mesquita Hassan II, foi construída pelo pai do atual rei para celebrar seu aniversário de 60 anos. Foi projetado pelo arquiteto francês Michel Pinseau e ergue-se como uma fortaleza das águas, reafirmando o verso do Alcorão que afirma que o trono de Deus foi construído sobre as águas. Tem um minarete de 210 metros de altura e é o mais alto do mundo com um laser que brilha em direção à Meca quando há incidência do sol. É atualmente a terceira maior mesquita do mundo e acomoda 25 mil fiéis no interior e 80 mil no pátio (tipo mais que o Maracanã). Apesar de ler várias vezes sobre ser a única mesquita permitida a não muçulmanos, não conseguimos entrar, pois a visitação ocorre somente em um horário por dia pela manhã. Só conseguimos dar uma espiada pelo grande portão. Não dá pra tirar aquela maravilha arquitetônica da cabeça.

OUTRAS CONSIDERAÇÕES:

Transporte - Andamos muito à pé, na minha opinião, é a melhor forma de mergulhar no astral das cidades. Nas maiores distâncias, utilizamos o Gran Taxi (normalmente carros grandes para 8 passageiros) ou dois Petit Taxi (que só transportam 3 passageiros). Para o tour do deserto, utilizamos a van do tour e algumas vezes utilizamos os trens da ONCF, que achei fácil de utilizar e bem estruturados, apesar de não estarem novinhos em folha. Apesar de não ter utiizado, as companhias de ônibus são: CTM e Supratours.

Como se vestir - Eu usei a dobradinha caça jeans e camiseta praticamente todo o tempo. Não usei o véu. Não senti nenhum tipo de olhar de soslaio. Simplesmente os marroquinos já veem os turistas como parte da paisagem.

 

Álcool - Não é comum nos restaurantes e não há bares. Na verdade, os bares são casas de chá, onde só os homens frequentam. Algo muito interessante é que eles não sentam virados para a rua, parecem que estão sempre em uma platéia vendo a galera passar. No primeiro dia, em Marrakech, sentamos em um desses "bares" para ver o jogo do Real Madrid x PSG e não teve uma alma dentro do lugar que não tenha se virado para olhar para nossa cara. Em Marrakech consegui tomar uma cerveja no Kosybar e em Rabat achamos um pub, bem legal, chamado Upstairs. Também é possível comprar no Carrefour.

Segurança - Total. Não me vi em nenhuma situação arriscada. Usei câmera e celular com tranquilidade, não notei nem batedores de carteira. Nas estradas há muitos pontos de fiscalização. Fomos parados pela "polícia rodoviária" que fez uma devassa na documentação do motorista e do carro, inclusive com monitoramento de velocidade aferido por um aparelho obrigatório pelas vans de turismo.

Gatos - Nunca vi tantos nas ruas quanto no Marrocos. Estão em todos os lugares. Contam que foram introduzidos no país para caçar os ratos e viraram cidadãos. Eu fiquei tão apaixonada que fiz praticamente uma série fotográfica dos bichanos.

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