top of page

Cuba 

Este é um site que tem como foco as viagens e a fotografia, mas em Cuba é impossível falar somente sobre isso, pois acabamos provando superficialmente o gosto do socialismo imposto por Fidel na revolução cubana, que muitos cubanos chamam de "fidelismo". É impossível voltar sem não ficar fã do homem que teve coragem de enfrentar os americanos e o embargo imposto por eles, inclusive depois da crise com a quebra da URSS. Conversei com muitos cubanos, dos idosos aos jovens e nenhum deles falou mal de Fidel e fica claro que ninguém estava feliz com a "segunda colonização" que acontecia antes da Revolução. Em suma, ao retornar agora, preciso ler mais sobre a história para entender tudo o que vi. Aparentemente, os cubanos são felizes com o pouco que têm, pois é certo que educação, saúde e segurança não faltam à população. E aí nos questionamos como o nosso governo não nos provê o básico com o tanto de impostos que pagamos.

Voltando a falar de turismo... Cuba merece mais que os doze dias que passei por lá. Eu gostaria de ter planejado melhor e ter esticado à Santiago de Cuba e a outros cayos, mas era o que tinha de férias, então curti o máximo que deu.

A chegada ao Aeroporto José Martin não nos deixa dúvidas que chegamos à Cuba, o ar é puro cheiro de fumo, as paredes são vermelhas e no estacionamento os carros da década de 50 já encontram-se à vista, com suas cores vibrantes que combina com a alta temperatura. Faz calor em Havana, muito calor! Talvez seja esse o motivo das funcionárias da aduana usarem saias tão curtas (a la década de 60). Eu segui uma dica do blog Viaje na Viagem do Ricardo Freire que indicava um quarto específico para alugar e quando entrei em contato por email,  os quartos já estavam preenchidos, mas ela prontamente me conseguiu outro e também providenciou um táxi para me buscar no aeroporto. Foi um alívio ver uma plaquinha com o "Flávia Moreira" escrito. Afinal, não há como confirmar muita coisa ou fazer o pagamento para garantir. Eis que o táxi segue para meu destino que é uma verdadeira incógnita, no caminho construções não muito altas e enfim cheguei ao destino: Casa Petronila​, que fica em um prédio de três andares, dentro de um pequeno condomínio, rodeado de plantas. Petronila é uma senhora de seus oitenta anos, que nos recebe com toda sua fofurice. Fiquei em uma suíte ampla com ar condicionado, tv (que não usei), ventilador e até geladeira por 30 CUCs (cerca de R$ 100,00) e em um hotel eu pagaria no mínimo uns R$ 600,00, sem falar no importante fator social. A liberalidade do governo em permitir a cessão dos quartos deve ter melhorado a vida dos cubanos, que pelo pouquíssimo que vi não é mole!
 

Organizei minhas coisas e tomei o caminho da rua, pois tinha que ir à uma agência para ver meu passeio para Cayo Largo, uma ilha à quarenta minutos de Havana, que teoricamente seriam​ meus únicos dias de descanso, ou seja, eu me daria de presente férias das férias. Rosa me umas dicas de como chegar ao Habana Livre, o hotel onde fica a agência, segui até à avenida 23 no final da rua e fiquei esperando os táxis compartilhados pararem. Simples assim: você faz sinal, pergunta pelo seu destino, se rolar um "sí", você sobe e o cara te deixa lá por um pouco menos de um CUC. Os táxis coletivos são todos carros dos anos 50 e, nesse primeiro dia, eu peguei uma Rural, cujos bancos me lembraram  um pau de arara.  É claro que eu paguei mico para entrar, mas não vou entrar em detalhes (rindo pacas ao lembrar, principalmente porque o cara me chamou de senhora..  hahahaha).

Fiquei um tempão esperando para ser atendida na Cubatur, mas enfim reservei o voo e hotel para o segundo dia, mas não é certo fechar, porque eles só confirmam o voo um dia antes e depois das 15:00. Ou seja, você paga tudo, recebe o voucher só do hotel e reza. Segurança zero.

Saí dá agência com a fome de dez etíopes e parei no restaurante do lobby e pedi um frango grelhado com fritas e uma coca-cola (Nem acreditei, um amigo tinha me falado que era impossível tomar uma, já que nada americano entrava em Cuba, depois descobri que importam do México). Fome aplacada, dei uma volta pelas proximidades, troquei moeda e fui até à famosa sorveteria Copelia.

A Copelia é uma sorveteria do governo, portanto subsidiada, uma ensalada, que é uma cumbuca com cinco bolas, custa cinco CUPs, o equivalente à 0,20 de CUC, ou seja, aproximadamente R$ 0,70. Fica em uma praça bem próxima do Hotel Habana Livre e tem várias seções, sem marcação oficial para os cubanos ou turistas, pode até ter, mas eu não identifiquei facilmente e entrei na primeira fila que vi e era de cubanos. Em dado momento, perguntei ao rapaz a minha frente como funcionava, que me explicou e aí percebi que estava no lugar errado, então ele convidou a subir com ele. Fui né?! E acabei nem pagando meu delicioso sorvete de plátano (banana), apesar de insistir para pagar inclusive o dele, porque acredito que para mim o valor é muito pouco. Conversamos bastante, ele me explicou​ como eram os subsídios e exemplificou que com três empregos tinha uma renda mensal de 800 CUPs (32 dólares), que a cesta básica dada pelo governo através das cadernetas só durava uma semana e que mesmo complementando com compras em CUP, o orçamento era muito apertado. No final, ele me ajudou a pegar um táxi para retornar à minha casa, mas antes me perguntou se nos veríamos de novo e se eu gostaria de ir a sua casa. Muito engraçado! 
 

O táxi me deixou a duas quadras, no caminho um senhor puxou assunto, falando sobre as questões econômicas de Cuba, me mostrou foto da filha e contou sobre suas condições de trabalho, perguntou até se Temer estava sendo melhor que Dilma. Pensei logo que ia pedir algo, mas não, era só um papo mesmo. Se fosse no Brasil, já estaria com medo. Eu acho que como os cubanos tem dificuldade de sair do país, eles aproveitam a oportunidade de conversar com os turistas para conhecer o mundo. Já no meu quarto, tomei um super banho e dormi por doze horas. 
 

Então oficialmente chegamos ao primeiro dia de roteiros definidos. No planejamento já havia decidido por tomar o café na própria casa, pagando o extra de 5 CUCs, que valeu pela disponibilidade e qualidade, com café, leite, suco, frutas, pão, queijo, presunto e ovos (chega a ser um exagero!). Na mesa, um casal e filha franceses e um rapaz que somente depois de dez minutos identifiquei como brasileiro.  Comentei que havia contratado um walking tour e que o guia me pegaria em casa, ele resolveu ir comigo e rachamos a despesa, ele também fotografa e foi ótimo ter companhia. 
 

A guia da Nosotroscubaneamos, Maria Hayde,  chegou pontualmente e tivemos oito horas de caminhada no centro histórico de Habana Vieja, com excelente detalhamento da história, dicas e uma simpatia fantástica. Finalizado o tour, eu e o gaúcho continuamos por nossa conta, sentamos em uma cervejaria artesanal na Plaza Vieja para fazer hora para o pôr do sol e para o Cañonazo, a cerimônia do disparo de canhão no Fortaleza de la Cabaña, que Maria já tinha nos dado todos os detalhes, pois temos que usar um túnel subterrâneo para passar ao outro lado da baía. Fomos de táxi e na volta nos aventuramos ao pegar o ônibus comum (mesmo com todo o terrorismo dos blogs de viagem) e foi bem tranquilo. É uma cerimônia historicamente interessante, pois no período colonial, davam-se tiros de canhão ao final de cada dia para informar aos cidadãos que os portões da cidade estavam fechados e o acesso à baía estava bloqueado. O tiro do canhão desferida por soldados vestidos à caráter ocorre pontualmente às 21:00. Saltamos do ônibus no Malecon e ainda andamos um bom tempo para aproveitar o movimento da noite com o pessoal na mureta batendo papo, namorando e ouvindo música, e o que é mais legal, sem risco de assalto. Confesso que  fiquei com inveja do cotidiano deles. Chegamos em casa já passava das dez. Rosa me esperava com a confirmação do voo para Cayo Largo e já tinha até me arrumado um táxi que me pegaria às 3:40 da manhã. Lá foi embora meu sono em dia...

Então vamos falar sobre Cayo Largo... É uma boa opção? Sim, mas não para quem viaja sozinha. Para mim, particularmente, acabou sendo bom, porque eu estava muito cansada e não ter o que fazer foi  excelente, porque se me conheço, estando em Havana eu ia querer fotografar tudo e iria me meter em todos os cantos. Fiquei por duas noites, mas praticamente três dias porque cheguei bem cedo e aproveitei para ir à Praia Sirena, uma das mais lindas que estive nos meus quarenta e três anos: areia branca como açúcar e mar verde esmeralda que faz o azul do céu ficar sem graça. No segundo dia ia fazer um tour de dia todo na Ilha de Las Iguanas, mas o tempo estava nublado e estava mesmo sem saco de ficar cheia de sal, areia e trânsito de barco e acabei deixando o dia me levar: acordei um pouco mais tarde, tomei café com bastante calma e fiquei em Playa Blanca (do hotel), que tem uma faixa de areia mais estreita. Como é uma época de baixa temporada, estava completamente vazia e foi bom hein.... Eu + eu mesma... Apareceu o guarda vidas com seu perro de cinco meses, ficamos cinco minutos conversando e mais nada, ótimo para quem não quer nada com o mundo. Saí da espreguiçadeira já quase na hora do almoço, mas parei ainda na piscina do hotel para dar umas braçadas (fazia tempo... e como gosto de nadar... sou definitivamente uma pessoa de hábitos individuais). Almocei a comida ruim do resort acompanhada de uma cerveja boa. Voltei pro quarto pra dar uma descansada, mas liguei a tv e acabei me deparando com a semifinal de Mônaco x Juventus. Às quatro fui enfim fotografar na praia, planos mais fechados, para fugir do mais do mesmo. Parei no bar, tomei um "sex in the beach" e o baby barman fez graça com o drink que respondi prontamente com piada: "no me gusta, tiene arena". Começou a armar um temporal, ao invés de tomar o caminho do quarto, preferi tomar outros drinks agradáveis com rum e assistir a chuva cair. Linda, por sinal e passageira. Deitei cedo.

Último dia, um pouco menos nublado e voo confirmado para tarde, não daria tempo de ir à Isla. Fiquei batendo um bom papo sobre budismo e mantras com uma funcionária da piscina, consegui que o DJ me liberasse umas músicas cubanas em um cartão de memória, fui à praia e só! Depois do almoço peguei o rumo do aeroporto que ao invés de pousar em Havana, pousou em Barracoa e de lá foi ônibus. Inacreditável esse aeroporto, que se restringe a uma sala, menor que a rodoviária de Lumiar. No centro de Havana peguei o táxi coletivo e em cinco minutos estava no destino, com uma novidade espetacular, já que o meu primeiro quarto estava ocupado, fiquei na casa da outra filha da Petronila, Mayita e seu marido Luís, dois fofos! Amei!

Resolvi fazer minha primeira tentativa de sair à noite sozinha, Mayita e indicou um restaurante chamado Karma. Antes passei na Fábrica de Artes que estava fechada. Havia fila e duas brasileiras nela, puxei assunto e elas me convidaram para ficar na mesma mesa. Fui né, exercitando a oportunidade de socializar e tive sorte porque as meninas eram divertidas, tomamos mojitos e fomos expulsas do restaurante, não por mal comportamento, mas porque queriam fechar. Uma delas deu ideia de irmos a Casa de La Música, uma casa de salsa e nos acabamos até às 3 da matina. 

Mesmo dormido pouco, levantei cedo para aproveitar a manhã antes de ir para Trinidad e fui fazer uma visita aos mortos no cemitério Cristóbal Colon, o segundo maior do mundo. É escandalosamente fantástico com obras primas sobre os túmulos, de lá segui (a pé) para a Plaza de la Revolucion, cujo simbolismo histórico chegou a me deixar emocionada, pois foi o local onde Fidel fez seus emblemáticos discursos, inclusive a memorável convocatória à população para o programa de alfabetização em massa de 1961. As esculturas em arame de Che e Cienfuegos foram introduzidas aos prédios governamentais em 1995, tornando o lugar mais interessante ainda.

Às duas, o táxi compartilhado para Trinidad passou na casa para me pegar. A viagem foi muito cansativa e desconfortável espremida atrás com um casal de italianos. Acho que indicaria fortemente encarar um pouco mais de tempo no ônibus da Viazul. Encontrei o gaúcho nas escadarias da Casa de La Música, jantamos e voltei pra casa. Estava muuuuuuito cansada.  Fiquei hospedada na casa Blue Media Luna, pela indicação de uma amiga e através do site Mycasaparticular, muitíssimo bem localizado, quarto simples, cama boa, ar condicionado, café da manhã gostoso e o atendimento VIP do Tony, dono da casa, uma das pessoas que mais amei nessa viagem, cara bom astral e super disponível.

 

Trinidad é uma cidade tombada pela UNESCO, com seu casario colonial e ruas de pedra (opte pelo tênis ao invés do chinelo). Um paraíso fotográfico. Fiquei três noites e dois dias inteiros, há muitos roteiros com passeios pelas redondezas eu fiz somente o Vale dos Ingenios e gastei meu obturador pelas ruas da cidade, que também é especialmente musical com bandas nos muitos bares e na escadaria da Casa de La Música a partir do fim da tarde. Para fechar uma das noites, ainda fomos a uma boate chamada La Cueva, que funciona dentro de uma gruta, com uns cubanos que conhecemos e aí foi a vez do reggaeton. Definitivamente, é uma cidade muito musical, a salsa está em todos os lugares.

Resolvi voltar para Havana com um escala em Santa Clara e para tal Tony me conseguiu um táxi compartilhado em uma wagon de 1950. Um barato! O propósito era ir ao mausoléu de Che e valeu demais. Acho que tenho andado sensível, pois fiquei bem emocionada. Em 1987, Fidel acendeu uma chama que nunca se apagou, com o propósito de manter a memória de Che para toda eternidade. Para voltar a partir de Santa Clara, fui até a rodoviária (um horror, por sinal), mas acabei me rendendo a novo táxi compartilhado. O povo cubano sabe otimizar. Em suma, eu chegaria às 19:00 e consegui chegar às 17:00. Em meia hora já estava de banho tomado e fui para a rua de novo, passei no Hotel Nacional para fechar meu tour à Viñales e fui ver o pôr do sol no Malecon e acabei andando uns 5km do hotel até o forte de la Punta com ida e volta. 

Fui jantar no Farallon, por indicação certeira da Rosa, as brusquetas estavam divinas e o espaguete ao pesto fantástico! E mais uma vez brasileiros no restaurante e eu na careta puxei assunto e assim como antes, fechamos o restaurante no bate papo.
 

No dia seguinte fui de excursão para Viñales, porque faltando dois dias para ir embora fiquei com medo de não conseguir um compartilhado. Se arrependimento matasse eu já teria até reencarnado. Busão, lugares para lá de "fisga-turista" e um tal de para, salta, 5 minutos e volta dos infernos. E para ajudar minha irritação, estava cheio de americanos, o que achei um absurdo, com todo o embargo eles não deveriam ter a cara de pau de ir turistar em Cuba. Não paramos na cidadezinha, somente passamos. Nem a fotografia, já que é um local bem bonito me deu tesão. Um tremendo desperdício. Não que eu indique não ir, mas deve-se ir por conta, acho que se tivesse pago o privado,  estaria muito mais feliz.

Os últimos dias foram dedicados à retornar a Habana Vieja, andar mais a pé e ir aos pontos que havia marcado no guia e tinha deixado passar, como por exemplo: Museu de la Revolucion, Bodequita del Medio e Callejon Hamel. Em Havana, praticamente para me locomover, usei os pés ou o almedron (táxi compartilhado que expliquei acima).

Um outro local que fiquei frustrada em não conseguir fazer a visita guiada foi à Fábrica de Charutos Partagas (atrás do Capitólio), que tem uma história fantástica: inaugurada em 1845 por Don Jaime Partagás que era um homem apaixonado pela beleza feminina, dono de vegas em Vuelta Abajo, visitava frequentemente suas plantações com o fim de observar de perto os progressos, mas também na tentativa de desfrutar alguns romances. Amores, ciúmes e vingança estão relacionados com seu assassinato. Foi encontrado morto em misteriosas circustâncias em uma de suas vegas. Era um visionário e tinha um funcionário contratado para fazer a leitura de livros para reduzir o tédio do trabalho dos torcedores (profissionais que enrolam manualmente os charutos). Valeu a passagem e comprei uns charutinhos finos para minha irmã fumante com bom preço.

Havana

Clique na foto principal para abrir o álbum

Cayo Largo

Clique na foto principal para abrir o álbum

Trinidad e Santa Clara

Clique na foto principal para abrir o álbum

Hospedagem:

Havana - Casa Petronila - contato: onairam247@gmail.com - Tel.: (+53) 53798966 (Rosa) ou (+53) 54224908 (Marianito)

Trinidad - Casa Blue Media Luna - contato: Tony Lorente - Tel: (+53) 41 996781 (+53) 53807097

Cayo Largo - Villa Iguana (contratado via pacote com o vôo)

Taxi:

Sr. Yorly (Pontiac 1955) - Tel.: (+53) 52422230 - email: ygr11@nauta.cu

Restaurantes:

Vedado - El Farallon e Karma

Malecon - La Abadia

Agências:

Para contratar Cayo Largo - Cubatur

Para walking tour em Havana e demais tours nas redondezas - Nosotroscubaneamos  (espectacular atendimento que começa pelos emails da Geikis, super indico!) - nosotroscubaneamos@gmail.com 

bottom of page